1. Considera-se que estamos em face de uma perífrase verbal sempre que do mesmo domínio predicativo participam um verbo auxiliar (também designado por «verbo morfemático») e uma forma nominal (infinitivo, gerúndio ou particípio passado) do verbo principal (também classificado como «verbo pleno») – com intermediação, ou não, de preposição (a, de, por, para). Exemplos:
a) «Estou a escrever um romance.»
b) «Está vendo?»
c) «O Zé foi atropelado por uma bicicleta.»
1.1. Verbo auxiliar
O verbo auxiliar é o resultado de um processo de gramaticalização (ou de deslexicalização). Este processo ocorre quando uma palavra de significação lexical passa a ser activada como uma palavra de significação gramatical [fornecendo a informação gramatical de pessoa, número, tempo, modo e aspecto].
Exemplo:
Verbo andar com significação lexical:
d) «Ando todos os dias 10 km.»
Verbo andar com significação gramatical:
e) «Ando a ler O Livro do Desassossego.»
1.2. Verbo principal
O verbo principal é o verbo que detém a significação do processo, evento ou estado; o seu conteúdo referencia directamente a acção existente no mundo extralinguístico.
2. As perífrases verbais podem ser:
– Temporais
– Modais
– Aspectuais
– Diatéticas (voz)
2.1. Verbos auxiliares de tempos compostos:
ter e haver
f) «Ele já tinha entrado em casa quando se deu a explosão.»
2.2. Verbos auxiliares de modo (verbos modais):
ter (de/que); dever; poder
g) «Para vires ter a minha casa deves apanhar o 78 ou o 35.»
h) «O Zé deve estar a chegar.»
i) «O Zé pode estar dois dias sem comer.»
2.3. Verbos auxiliares de aspecto (também designados por «semiauxiliares»)
acabar (de/por); andar (a); começar (a/por); continuar (a); estar (a/para/por); ficar (a/por); ir (a)
De notar que é na referenciação de valores aspectuais que o procedimento perifrástico patenteia maior sistematicidade. Deste modo, é comum recorrer aos termos «conjugação perifrástica» e «perífrase verbal» quando se quer designar construções aspectuais.
3. Perífrase verbal e locução verbal
Perífrase: processo que consiste em exprimir por muitas palavras o que se pode exprimir em poucas; o mesmo que «circunlóquio».
Locução (em análise gramatical): grupo de palavras que funciona como uma palavra só.
Se atendermos às definições, poderemos concluir que uma locução verbal pode ser uma perífrase verbal e vice-versa. Muitas vezes, trata-se de uma questão convencional ou de opção terminológica1. Como já foi referido, uma perífrase verbal será, primeiramente, uma perífrase aspectual. Mas, por outro lado, as construções com verbo leve (ou verbo suporte) não são, por norma, classificadas como perífrases.
3.1. Construções com verbo leve
Verbo + nome (deverbal ou não)
O processo de deslexicalização do verbo leve não é total. Por outro lado, é atribuída ao nome a função predicativa.
Exemplos:
j) «dar beijos» (= beijar)
l) «fazer a apresentação» (= apresentar)
m) «ter em consideração» (=considerar)
n) «pôr em risco» (= arriscar)
o) «tirar fotografias» (= fotografar)
Bibliografia fundamental:
ALMEIDA, João de, 1980 – Introdução ao Estudo das Perífrases Verbais de Infinitivo. Assis, São Paulo, ILHPA-HUCITEC.
BARROSO, Henrique, 1994 – O Aspecto Verbal Perifrástico em Português Contemporâneo. Visão funcional/sincrónica, Porto, Porto Editora.
PONTES, Eunice, 1972 – Estrutura do Verbo no Português Coloquial, Petrópolis, Ed. Vozes.
------ 1973 – Verbos Auxiliares em Português, Petrópolis, Ed. Vozes, Petrópolis.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos, 1981 – O Aspecto Verbal no Português. A Categoria e Sua Expressão, Uberlânida/MG, Universidade de Uberlândia.
Em linha:
1 Da TLEBS consta o termo «complexo verbal».