No caso de pintor e artista, trata-de termos correferentes não anafóricos, porque a sua relação depende do nosso conhecimento do mundo (conhecimento enciclopédico): se Almada Negreiros (1893-1970) não tivesse sido pintor e artista, não poderíamos fazer-lhe referência pela menção dessas atividades.
Já o uso de Almada para referir Almada Negreiros é diferente, porque é a simples repetição de parte do nome, como mecanismo de coesão lexical.
Sobre este assunto, vale a pena recuperar as definições e exemplos da antiga Terminologia Linguística para os Ensino Básico e Secundário (a controversa TLEBS), de cuja revisão resultou o Dicionário Terminológico:
Correferência não anafórica
«Duas ou mais expressões linguísticas podem identificar o mesmo referente, sem que nenhuma delas seja referencialmente dependente da outra. Fala-se, então, de correferência não anafórica [...]. No texto "O Rui foi trabalhar para África. Finalmente, o marido da Ana conseguiu concretizar o seu sonho", as expressões "O Rui" e "o marido da Ana" podem ser correferentes, ou seja, podem identificar a mesma entidade, sem que nenhuma delas funcione como termo anafórico. Naturalmente, só informação de carácter extralinguístico permite afirmar se há ou não correferência entre as duas expressões nominais» (ortografia atualizada).
Coesão lexical
«Mecanismo de coesão textual que envolve a repetição da mesma unidade lexical ao longo do texto ou a sua substituição por outras unidades lexicais que com ela mantêm relações semânticas de natureza hierárquica (hiponímia, hiperonímia) ou não hierárquica (sinonímia, antonímia).
Exemplo
Veja-se o seguinte fragmento textual: "Quando chegou a casa, o Rui viu um carro estacionado em frente da sua garagem. Ficou intrigado: o veículo não lhe era familiar." A substituição da palavra carro (hipónimo) pela palavra veículo (hiperónimo) assegura coesão lexical e garante simultaneamente identidade referencial (o carro e o veículo designam o mesmo objeto).»