No Ciberdúvidas, há várias explicações detalhadas sobre o tema (ver Textos Relacionados). O mais que eu posso fazer é retomar essas respostas e procurar encontrar uma (outra) forma de explicar o que são deícticos. Penso que um bom ponto de partida é a definição dada no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (que regista a variante díctico):
«Palavra cuja significação referencial só pode ser definida em função da situação, do contexto, do locutor e do receptor do acto de fala.»
Em muitas gramáticas é frequente dar como exemplos de deícticos os determinante e pronomes demonstrativos (este, esse, aquele), palavras que só referem realmente alguma coisa quando são interpretadas em função da situação de comunicação e de quem comunica: na frase «esta resposta não é simples», a expressão «esta resposta» refere-se a uma resposta que aqui se expõe, e não a outra.
Outras palavras também têm a mesma propriedade deíctica:
— Os advérbios de lugar aqui, ali, aí e os advérbios de tempo agora, hoje, ontem, amanhã são também deícticos, porque, quando ocorrem no discurso, indicam posições no espaço e momentos ou segmentos temporais cuja identificação é feita em função dos interlocutores (quem fala), da situação de comunicação por eles instaurada e respectivo contexto.
— Os pronomes pessoais (eu, tu/você, ele/ela, nós, vós/vocês, eles/elas) e as desinências pessoais da flexão verbal são deícticos porque são formas usadas para referir as pessoas em que se apoia cada situação de comunicação. Quando no início da resposta escrevi «o mais que eu posso fazer», indico, mediante o pronome eu e a forma verbal posso, 1.ª pessoa do presente do indicativo do verbo poder, que quem fala é, em princípio, o signatário desta resposta.
— Segundo o Dicionário Terminológico (DT), são ainda deícticos algumas preposições e locuções prepositivas (por exemplo, a e para, para exprimir afastamento, e de, para exprimir aproximação: «viagem a Lisboa» vs. «viagem de Lisboa»), alguns adjetivos — atual, contemporâneo, futuro (cf. DT) — e alguns nomes — véspera (cf. DT).
— Deve finalmente lembrar-se que os textos escritos e orais podem também funcionar como contextos de uso dos deícticos, quando se pretende mencionar qualquer passagem textual já proferida ou a proferir; daí o emprego de expressões como: «a tese antes exposta», «como ficou dito no capítulo anterior», «como se demonstrou acima», «veremos seguidamente» (exemplos do DT).
N. E. (10/05/2017) – No quadro da aplicação, a partir de 2010, do Acordo Ortográfico de 1990, passou a escrever-se deítico, conforme a realização fonética mais generalizada deste termo dos estudos linguísticos, cuja transcrição fonética corresponde a [dɐˈitiku] (cf. deíctico, díctico no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciêcias de Lisboa; ver também o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora). No entanto, continua a aceitar-se a grafia deíctico, dado a pronúncia com [k] – [dɐˈiktiku] – ter também frequência significativa em Portugal, no discurso especializado ; é o que fazem o Vocabulário Ortográfico do Português (VOP) e o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC), que registam ambas as grafias. Observe-se que deíctico – ou, atualizando a grafia, deítico – é a forma adotada pelo Dicionário Terminológico, publicado em 2009 e destinado a apoiar o estudo da gramática nos ensino básico e secundário em Portugal. Contudo, convém assinalar que a palavra tem muitas outras variantes, todas corretas, que decorrem de entendimentos diferentes a respeito da adaptação da forma erudita grega que a motivou, δεικτιkóς (ou, na transliteração latina, deiktikós), que significa «que mostra ou demonstra». Assim, nos estudos de língua, também se usa dêitico (cf. Gramática do Português, Fundação C. Gulbenkian, 2013, p. 862), que tem a variante dêictico (ver também o VOP e o VOC), e dítico ou díctico (assinale-se que o Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa (VOALP) da Academia das Ciências de Lisboa consigna somente as formas dêitico e díctico). Quanto ao termo deixis, que designa a propriedade indicial ou demonstrativa dos deíticos e este fenómeno linguístico em geral, registam-se igualmente variantes: além da forma mencionada (cf. DT), contam-se dêixis e díxis (cf. Dicionário Houaiss, VOP, VOC, VOALP, o vocabulário ortográfico da Porto Editora e Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras).