Segundo Mateus e outros, Gramática da Língua Portuguesa, p. 62, «as expressões deíticas pessoais indicam os participantes e os protagonistas na situação de interacção: eu refere, na situação, o locutor, a pessoa que diz eu; tu, você, vocês indica o interlocutor ou interlocutores da pessoa que diz eu, etc. Por sua vez, localizações reconhecíveis no interior do contexto em que ocorrem podem ser representadas por expressões dêicticas espaciais, do mesmo modo que as expressões dêicticas temporais apontam para intervalos de tempo identificáveis em função da relação que mantêm com o tempo da sua própria enunciação».
Assim, e respondendo diretamente à questão formulada pela consulente, conclui-se que os verbos sugeridos não poderão ser considerados deíticos pessoais.
Podemos, contudo, considerar, na esteira do Dicionário Terminológico (DOMÍNIO C: ANÁLISE DO DISCURSO, RETÓRICA, PRAGMÁTICA E LINGUÍSTICA TEXTUAL) e destas duas respostas de Ana Martins e Carlos Rocha, que a «referenciação temporal visada nos morfemas da flexão verbal [neste caso, assentiu, indicou] alude a um tempo anterior, simultâneo ou posterior relativamente ao momento do eu que fala». Deste modo, podemos dizer, sim, simplificando e sistematizando, que os tempos verbais podem ser enquadrados, de um modo geral, no conjunto dos chamados deíticos temporais.
N. E. (10/05/2017) – No quadro da aplicação, a partir de 2010, do Acordo Ortográfico de 1990, passou a escrever-se deítico, conforme a realização fonética mais generalizada deste termo dos estudos linguísticos, cuja transcrição fonética corresponde a [dɐˈitiku] (cf. deíctico, díctico no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciêcias de Lisboa; ver também o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora). No entanto, continua a aceitar-se a grafia deíctico, dado a pronúncia com [k] – [dɐˈiktiku] – ter também frequência significativa em Portugal, no discurso especializado ; é o que fazem o Vocabulário Ortográfico do Português (VOP) e o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC), que registam ambas as grafias. Observe-se que deíctico – ou, atualizando a grafia, deítico – é a forma adotada pelo Dicionário Terminológico, publicado em 2009 e destinado a apoiar o estudo da gramática nos ensino básico e secundário em Portugal. Contudo, convém assinalar que a palavra tem muitas outras variantes, todas corretas, que decorrem de entendimentos diferentes a respeito da adaptação da forma erudita grega que a motivou, δεικτιkóς (ou, na transliteração latina, deiktikós), que significa «que mostra ou demonstra». Assim, nos estudos de língua, também se usa dêitico (cf. Gramática do Português, Fundação C. Gulbenkian, 2013, p. 862), que tem a variante dêictico (ver também o VOP e o VOC), e dítico ou díctico (assinale-se que o Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa (VOALP) da Academia das Ciências de Lisboa consigna somente as formas dêitico e díctico). Quanto ao termo deixis, que designa a propriedade indicial ou demonstrativa dos deíticos e este fenómeno linguístico em geral, registam-se igualmente variantes: além da forma mencionada (cf. DT), contam-se dêixis e díxis (cf. Dicionário Houaiss, VOP, VOC, VOALP, o vocabulário ortográfico da Porto Editora e Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras).