O sufixo -nte, que é muito produtivo na produção de adjetivos deverbais (derivados de temas verbais), remonta ao sufixo flexional do particípio presente latino. Contudo, a sua ativação frequente, na formação de novos derivados, não é indicativa de que exista um particípio presente em português.
No caso de derivados sufixados por -nte, a possibilidade correta com temas de verbos da 3.ª conjugação (acabada em -ir) é com a terminação -inte ou -ente:
a) ouvi- (ouvir)> ouvinte; pedi- (pedir) > pedinte; sai- (sair) > sainte; segui- (seguir) > seguinte;
b) agi- (agir) > agente; dormi- (dormir) > dormente; referi (referir) > referente; servi- (servir) > servente.1
A terminação -iente só figura em adjetivos resultantes da adaptação de formas latinas: convenie- (do latim convenire) > conveniente; incipie- (do latim incipere) > incipiente; sali- (do latim salire) > saliente.
Note-se que as formas acabadas em -iente só se aceitam se foram transpostas do latim clássico diretamente, por via erudita, para o português. Não é, portanto, aceitável a forma "saiente", que mistura a morfologia do português contemporâneo (sair) com a configuração latina de transmissão culta (-iente).
Por último, em relação às frases apresentadas na questão, observe-se que é desadequado o uso de saliente, adjetivo que hoje não significa «que sai», mas, sim, «que sobressai, que se destaca». Também a frase com sainte tem problemas: embora interpretável como «que sai», os registos dicionarísticos atribuem-lhe ainda a aceção de «que termina (por exemplo, um mandato)», além de o aproximarem semanticamente de saliente (cf. Infopédia e Dicionário Houaiss). Preferível será achar outra formulação frásica: «Todas as pessoas que saem devem deixar o crachá na mesa» («na mesa» melhor que «à mesa»).
Em suma, sainte («que sai,sobressai») e saliente («que sobressai, que se destaca»), apesar de pouco se afastarem na significação, são um bom exemplo de palavras divergentes.
1 Para a justificação histórica desta variação, incluindo as formas acabadas em -iente (saliente), ver Graça Rio-Torto, "Derivação" in Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, 2020,p. 3060/3061).