O constituinte «de quem não vai ter muita vida para viver» desempenha a função de complemento do nome aspeto.
Várias são as razões que poderemos aduzir para justificar a classificação anterior. Antes de mais, recordemos que na classe dos nomes distinguimos os nomes independentes dos nomes dependentes. Estes últimos «denotam tipicamente entidades do mundo que só podem ser apreendidas quando postas em relação com outras entidades»1. Vários são os exemplos de nomes dependentes que se poderão apresentar. Eis alguns deles:
(1) «amigo (de alguém)»
(2) «autor (de uma obra)»
(3) «casamento (de alguém com alguém)»
(4) «consequência (de algo)»
(5) «fatia (de bolo)»2
No caso do nome aspeto é particularmente evidente que, no contexto frásico em que surge, se comporta como nome dependente, pedindo, portanto, um argumento que complete o seu sentido. Daí a estranheza de (6):
(6) «?Era um homem magro, pálido, com aspeto»
O nome aspeto necessita de um constituinte que lhe permita denotar a relação entre duas entidades, pelo que terá como estrutura:
(7) «aspeto de algo/alguma coisa»
(8) «aspeto de alguém»
Recorde-se ainda que os argumentos dos nomes dependentes desempenham a função de complementos do nome e poderão corresponder a sintagmas preposicionais, pronomes possessivos ou orações (normalmente introduzidas por preposição).
Não existe uma tipologia que descreva de forma exaustiva as subclasses sintáticas e semânticas de nomes dependentes, pelo que nem sempre é fácil proceder a uma análise por meio do enquadramento de um nome numa dada subclasse. Não obstante, se atentarmos no nome aspeto, poderemos considerar que este se enquadra na classe dos nomes relacionais, que «quando complementados […] denotam classes de entidades que mantêm a relação expressa pelo nome dependente com a entidade ou entidades referidas pelo complemento»3.
É também possível considerar que o nome aspeto é aparentado dos nomes que denotam representações visuais ou gráficas, tais como descrição, desenho, fotografia, imagem, que pedem também complemento.
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? assinala a estranheza da construção.
1. Raposo e Miguel, in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 715.
2. Exemplos recolhidos de Raposo e Miguel in idem, ibidem.
3. Idem, ibidem, p. 743.
4. Cf. Brito e Raposo in Idem, ibidem, p. 1064.