Todas as frases em questão estão corretas, mas convém compreender de que modo se constroem e em que condições são usadas.
Com verbos que exprimem sentimento, pode acontecer que o complemento direto venha regido de preposição:
1. «Só não amava a Jorge como amava ao filho.» (cf. C. Cunha e L. Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, p. 143)
2. amar ao próximo (exemplo da Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 1169)
3. amar a Deus (idem, ibidem)
Em qualquer caso, é também possível o complemento sem preposição (é, aliás, a opção talvez mais intuitiva na atualidade): «só não amava Jorge como amava o filho»; «amar o próximo»; «amar Deus».
Assinale-se, porém, que, no caso da construção com a conjunção como, a preposição a, ao associar-se a expressões referentes a pessoas, permite desambiguar a referência do termo da comparação:
4. Ivone estimava Alda como a uma irmã.
Em 4, a preposição permite indicar que o termo da comparação tem o mesmo referente que o complemento direto marcado pelo pronome -a. Se a preposição não ocorresse, a frase tornar-se-ia ambígua: «Ivone estimava Alda como uma irmã» (= «Ivone, como se fosse uma irmã, estimava Alda», ou «Ivone estimava Alda como se esta fosse uma irmã»?)
A possibilidade de a construção comparativa associada a um complemento direto incluir a preposição a é descrita por Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2003, 495):
«Para evitar confusões no sentido, usam-se as comparativas como, que, do que junto ao sujeito e, seguidas de preposição, como a, que a, do que a junto do objeto direto (o a é preposição):
Estimo-o como um pai (= como pai estima)
Estimo-o como a um pai (= como se estima a um pai).
Se o contexto não admitir esta dupla interpretação, pode-se dispensar o auxílio da preposição:
"Meu pai encarregou-a do governo doméstico e nós habituamo-nos a tê-la em conta de segunda mãe; também ela nos amava como filhos" [AH apud MBa. 7, 12].»*
* A referência diz respeito a Alexandre Herculano citado por Mário Barreto, Factos da Língua Portuguesa, 7.ª edição, 1982. Note-se que, na passagem citada, onde se lê «como se estima a um pai», E. Bechara emprega um complemento direto preposicionado («a um pai»), visto ser esta uma possibilidade do uso dos verbos de sentimento, conforme se observa logo no começo desta resposta: «Com verbos que exprimem sentimento, pode acontecer que o complemento direto venha regido de preposição [...].»