Contrariamente ao que acontece na língua espanhola, em português a ocorrência do complemento direto (CD) preposicionado é muito pontual.
Segundo Cunha e Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (1984, p. 143), os complementos diretos preposicionados em português apenas surgem com verbos que exprimem sentimentos, como em (1), para evitar ambiguidade, como em (2), e quando este constituinte é anteposto, como em (3)1.
(1) «Só não amava a Jorge como amava ao filho.»
(2) «Sabeis, que ao Mestre vai matá-lo.»
(3) «A homem pobre, ninguém roube.»
Portanto, em português, verifica-se que a marcação do CD por meio de uma preposição corresponde sobretudo a uma estratégia estilística. Já em espanhol, verifica-se que o CD é marcado por uma preposição – geralmente a preposição a – nos casos em que este constituinte tem os traços [+animado] e [+específico], o que não acontece em português, em que mesmo que o CD tenha os traços [+animado] e [+específico] tem geralmente a forma de um sintagma nominal, como se observa no contraste (4).
(4a) «Visité a mi papá.» (Espanhol)
(4b) «Visitei o meu pai.» (Português)
1. Estes exemplos são de Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, p. 143.