O verbo desprezar é atualmente transitivo direto, isto é, usa-se com objeto direto, razão por que a forma correta é de facto «desprezar os humildes», e não «desprezar aos humildes».
Note-se, porém, que, na história do português, o mesmo verbo podia funcionar como transitivo indireto:
(1) «... mostrando eles algumas vezes nestas práticas sobre a lei de Deus que desprezavam ao irmão Fernandes» (João de Lucena, Historia da Vida do Padre S. Francisco Xavier, 1600 in Corpus do Português)
O exemplo em (1), que se repete noutros textos dos séculos XV a XVIII, não parece refletir influência francesa, porque esta só se tornou efetiva no português a partir de finais do século XVIII e depois ao longo do século XIX. É, portanto, um tanto questionável que o uso transitivo indireto de desprezar seja apenas um galicismo, como alguns gramáticos pretendem. Torna-se, pois, possível que os casos literários em causa se devam a um arcaísmo.
Seja como for, atualmente o verbo em questão funciona hoje como transitivo direto: «desprezar os humildes».