Na noite de 14 de julho de 1789, o rei Luís XVI da França é informado pelo Duque de La Rochefoucauld que a Bastilha, uma fortaleza medieval usada como prisão, tinha sido tomada por uma multidão em fúria. Intrigado, o rei perguntou «É uma revolta?», ao que o Duque respondeu «Não, majestade, é uma revolução», indicando assim que aquele acontecimento desencadearia um conjunto de outros que mudariam profundamente a ordem estabelecida até então. De facto, estava em marcha a Revolução Francesa, período que acabaria por alterar para sempre a organização da sociedade francesa e, mais tarde, também da europeia. Episódios como este servem para ilustrar que, embora possuam uma morfologia parecida, os termos revolução e revolta caracterizam, ao contrário do que muitos pensam, situações ligeiramente diferentes.
A palavra revolução descreve tipicamente uma mudança repentina no poder político ou na organização de uma sociedade, ou seja, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (DLPACL), consiste na «ação de realizar mudanças profundas», ao passo que a palavra revolta significa, de acordo com DLPACL, «levantamento contra a autoridade, a ordem estabelecida». Neste sentido, as tensões que ocorreram na primavera de 1846 no norte de Portugal, a propósito de um conjunto de leis sobre o recrutamento militar, alterações fiscais e proibição de realizar enterros dentro das igrejas, ficaram conhecidas por Revolta da Maria da Fonte, já que não alteraram profundamente a ordem estabelecida, sendo mais uma reação contra o poder político da época e não uma mudança profunda no sistema. Por outro lado, os acontecimentos iniciados na madrugada de 25 de abril de 1974 e que, mais tarde, ficaram conhecidos por Revolução dos Cravos, estão precisamente em linha com o sentido atribuído à palavra revolução, uma vez que terminaram com o Estado Novo e instituíram a democracia, mudando profundamente o modo de funcionar da sociedade portuguesa.
O termo revolução pode ainda ser utilizado noutros contextos. É também comum usar este vocábulo para descrever mudanças rápidas e profundas nos campos científicos, tecnológicos, económicos e comportamentais, como foi, por exemplo, o que aconteceu com a Revolução Industrial, período em que ocorreu um conjunto de transformações tecnológicas, industriais e económicas que alteraram gradualmente as regras do mercado, o uso das tecnologias e a atitude da sociedade perante o trabalho. Contudo, o sentido atual atribuído à palavra revolução nem sempre foi o de mudança. Este significado resulta aliás de uma adaptação do francês révolution e que começou a ser registado nos dicionários do português no século XVII, após a Revolução Francesa. A sua origem está no nome latino revolutionem, que tinha como sentido «volta, volver», indicando o passar do tempo.
Em contrapartida, o nome revolta deriva do verbo revoltar, que, por sua vez, entrou na língua portuguesa por influência do termo francês révolté. Para além do sentido associado à insurgência contra o sistema e as suas convenções, revoltar pode também, na sua forma pronominal, ter uma conotação mais pessoal e relacionada com sentimentos de indignação ou perturbação como, por exemplo, «o jovem revoltou-se contra o regime».
Sumariamente, apesar de as aceções atuais das palavras revolta e revolução terem entrado no português por via da língua francesa e indicarem uma reprovação da autoridade, é preciso ter em conta que num caso essa reprovação acaba por originar alterações significativas e no outro não. Portanto, uma revolução acaba sempre por ter uma amplitude maior do que a de uma revolta, mesmo que a segunda tenha sido ponto de partida da primeira. Nesta perspetiva, os episódios passados há 50 anos, em 25 de abril de 1974, deverão sempre ser vistos como uma revolução, uma vez que Portugal e os portugueses, depois disso, mudaram bastante, optando, como declarou Sophia de Mello Breyner Andersen, por «emerg[ir] da noite e do silêncio / E livres habit[ar] a substância do tempo».