O uso do comparativo de inferioridade de grande numa frase como «A minha casa é menos grande do que a tua» é aceitável? Numa perspetiva de uso formal da língua, o adjetivo grande não aceita integrar construções com o grau comparativo de inferioridade. Como é sabido, o grau comparativo envolve a comparação do grau de uma dada propriedade entre duas entidades. Assim, na frase como «O carro é mais rápido que a bicicleta.», a propriedade expressa pelo adjetivo rápido é comparada entre as entidades carro e bicicleta, atribuindo-se um grau maior a carro. Para que um adjetivo possa entrar numa estrutura comparativa desta natureza, terá de ser graduável. Ora, o adjetivo grande significa «que tem dimensões maiores do que o habitual» ou «cuja extensão é maior do que a média» ou «que é maior do que aquilo que devia ser». Ora, atendendo a esta significação, não será possível inserir o adjetivo grande numa frase que aponte para uma comparação de inferioridade porque esse processo entra em conflito com a própria significação do adjetivo que aponta para uma dimensão maior do que o normal. Por esta razão, podemos usar o adjetivo grande apenas em construções de grau comparativo normal ou de grau comparativo de superioridade. Repare-se que, neste último caso, grande assume normalmente a forma maior, embora a construção «mais grande que» seja aceitável nalguns casos (como se explica nesta resposta). No caso da frase inicial, a opção correta seria também a adoção da forma menor: «A minha casa é menor do que a tua».
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[AUDIO: Carla Marques_Mais grande]
Apontamento da professora Carla Marques incluído no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 13 de julho de 2025.