O adjectivo grande faz parte do reduzido grupo de adjectivos (bom, mau, pequeno) que formam os comparativos e os superlativos de forma irregular (são, por isso, também designados de anómalos), o que não significa que só as formas irregulares possam ser usadas, pois há situações particulares em que se prevê o recurso à regra geral da formação dos comparativos.
Decerto devido à complexidade de determinados casos, este tema tem sido objecto de análise de gramáticos e de linguistas. Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984), tal como afirma a consulente, prevêem a utilização das formas irregulares, mas também das regulares, do comparativo de superioridade dos adjectivos bom, mau e grande, como se pode verificar através das seguintes citações (idem, pág. 262):
Quando se compara a qualidade de dois seres, não se deve dizer mais bom, mais mau e mais grande; e sim: melhor, pior, maior. Possível é, no entanto, usar as formas analíticas desses adjectivos quando se confrontam duas qualidades do mesmo ser:
Ele foi mais mau do que desgraçado.
Ele é bom e inteligente; mais bom do que inteligente.
Portanto, pelo exposto, concluímos que é possível a forma «mais grande do que» quando se confrontam duas qualidades do mesmo ser. Para fundamentar esta tese, teria sido importante que tivesse sido apresentado algum exemplo, a par das outras duas situações apontadas, mas a verdade é que a indicação de tal possibilidade (e conselho) foi registada.
Sem desprimor do que foi dito, é de referir, também, que essa posição não surge tão explícita por outros gramáticos linguistas. Por exemplo, Evanildo Bechara, na sua recente Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Ed. Lucerna, 2009, pág. 151), é peremptório ao indicar-nos que:
«Não se diz mais bom nem mais grande em vez de melhor e maior; mas podem ocorrer mais pequeno, o mais pequeno, mais mau, por menor, o menor, pior. Também se podem empregar bom e grande nas expressões mais ou menos grande, mais ou menos bom, pois que os tais adjectivos se regulam pela última palavra.»
Por sua vez, Maria Helena Moura Guedes, em Guia do Uso do Português: confrontando regras e usos (São Paulo, Unesp, 2003), recomenda o seguinte sobre a forma maior: «Maior é a forma sintética do comparativo de superioridade e do superlativo relativo de superioridade do adjectivo grande: Ao longo da avenida existem lojas maiores que essas. Não é tradicionalmente recomendada, e não ocorreu, a forma analítica do comparativo de superioridade e do superlativo relativo de superioridade de grande: “mais grande”» (p. 493).
A partir destes dados apercebemo-nos de que, embora a forma analítica não seja a recomendada, isso não implica que seja considerada como totalmente agramatical, visto poder ocorrer pelo menos num certo contexto.
Cf.: «Mais grande» é erro?