1. A atualidade da pandemia do covid-19 é marcada pela polarização do modo como no Brasil se encara a pandemia, mesmo no interior das instituições políticas. Entre os termos a que os media brasileiros dão grande visibilidade, refiram-se dois pouco ou nada conhecidos em Portugal: panelaço e carreata, que denominam formas de protesto distintas – a primeira contra o presidente Jair Bolsonaro e a sua desvalorização quanto à perigosidade da doença e a segunda de apoiantes seus, a favor do levantamento das restrições em alguns estados brasileiros. E há ainda a expressão «força-tarefa», um decalque de task force, em alusão ao grupo de especialistas que assessoram o presidente norte-americano Donald Trump no combate ao novo coronavírus. Estes termos são as novas entradas de "A covid-19 na língua".
Na imagem, a representação de parte do território do Brasil num fragmento do Planisfério Português (1502) de autor anónimo, confeccionado clandestinamente por solicitação do comerciante italiano Cantino.
2. No Consultório, quatro perguntas: como se define o conceito de «conteúdo proposicional»? A expressão «epicentro da epidemia» é redundante? Campanha é da família de palavras de campo? Para um grupo de pessoas, diz-se «viva» ou «vivam»?
3. Em Portugal, o Alentejo faz-se notar nas estatísticas por parecer relativamente poupado pela covid-19, facto que as suas características naturais e demográficas singulares talvez expliquem. A propósito da identidade desta região portuguesa, Sara Mourato apresenta em O nosso idioma um apontamento sobre alguns vocábulos típicos de muitas terras alentejanas: por exemplo, manajeiro, sinónimo de capataz.
4. Em O nosso idioma, disponibiliza-se o texto "A pandemia e o festival de inanidades", da autoria do poeta moçambicano Luís Carlos Patraquim, emitido em 19/04/2020 no Páginas de Português da Antena 2). Como anteriormente já anunciado, nele participou também a professora Carla Marques, que apresentou e comentou o glossário "O léxico da covid-19" – trabalho organizado pelo Ciberdúvidas com os termos mais usados na presente crise sanitária mundial e que se encontra em constante atualização (ouvir aqui).
5. Em Portugal, a pandemia de covid-19 levou o Governo português a adotar um conjunto de medidas para funcionamento das escolas, que continuam a trabalhar em regime de ensino à distância, com recurso a plataformas em linha. Além disso, a partir deste dia, 20 de abril, as aulas do 1.º ao 9.º ano são reforçadas pelas emissões televisivas do #EstudoEmCasa na RTP Memória, as quais envolvem mais de 100 professores, num esforço de abranger todos os alunos, mesmo os que não disponham de computadores nem de ligação à Internet (ver horários). Esta solução não está isenta de riscos: por um lado, verificam-se situações de quebra de cibersegurança*, nas aulas realizadas nas plataformas digitais usadas pelos professores; por outro, há quem duvide da igualdade educativa do acompanhamento de todos estes jovens portugueses**, como é o caso do economista Luís Aguiar-Conraria, em artigo de opinião publicado no Expresso (18/04/2020) e transcrito com a devida vénia na rubrica Controvérsias.
* A palavra cibersegurança nem sempre figura corretamente escrita nos media portugueses. Escreve-se sem hífen, com um único s (depois de qualquer consoante, é impossível escrever ss), formando uma só palavra gráfica, tal como se infere de casos como cibercafé ou ciberataque, conforme registou o saudoso consultor José Neves Henriques (1916-2008), numa resposta de 1997, que não perdeu atualidade, nem mesmo com a norma ortográfica em vigor.
** A propósito deste tempos de preocupação acrescida dos pais com os filhos, leia-se o que o tradutor Marco Neves escreveu em 19/04/2020 no blogue Certas Palavras e no Sapo 24 sobre a etimologia da palavra filho, em complemento do que registara anteriormente noutro artigo.
6. O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (AO) que vigora no Brasil desde 2009 e, em Portugal, desde 2015, continua a alimentar debate aceso. Na rubrica Acordo Ortográfico, transcreve-se com a devida vénia um texto do jornalista Nuno Pacheco, muito crítico de novas grafias usadas em Portugal, como é o caso de infeção, em consequência da supressão do antigamente chamado "c mudo"; a réplica, igualmente aqui transcrita, vem do constitucionalista Vital Moreira, que assinala a vantagem trazida pelo AO com a supressão dessa letra. Cf. O Acordo Ortográfico em tempos de pandemia
7. A presente semana é marcada, em Portugal, pelos preparativos do 46.º aniversário da Revolução de 25 de Abril no meio de alguma polémica, por se anunciar uma sessão comemorativa presencial do parlamento português, apesar da necessidade ou obrigação de distanciamento social. Mas quem, confinado ou não, se interessa por cinema em língua portuguesa e pela história contemporânea de Portugal encontra motivos de regozijo no acesso livre, facultado pela Cinemateca Portuguesa até 24 de abril p. f., a O Mal-Amado (1973), um filme de Fernando Matos Silva, que só pôde ser exibido depois de 25 de abril de 1974. Outra obra disponível é o filme Os Lobos, de Rino Lupo, um cineasta italiano que explorou a essência de certos ambientes rurais portugueses.
Na imagem, fotograma do filme O Mal-Amado (atores: Maria do Céu Guerra e João Mota).
8. Porque o bulício das redes digitais não chega a todos nem a todos tem de agradar, a Casa Fernando Pessoa (CFP), em Lisboa, oferece o serviço Leituras ao ouvido: ligados pela poesia e pelo telefone, que funciona de segunda a sexta, a partir das 16h00. Conforme se esclarece na sua página, a CFP mantém a partilha diária de poemas no Facebook e Instagram; mas, para chegar «ao ouvido de quem não está ligado às redes», fica alargada ao telefone a distribuição de poemas e textos curtos.Mais informação aqui.
9. No Alentejo, o que se quer dizer com a frase «vamos lá enregar»? E para que serve uma almotolia, palavra que nos chegou do árabe? Ou, ainda: o que é a segundeira, que se retira de um sobreiro? E os javalis à volta dos montes afuçam o quê... e para quê? São perguntas acerca da região alentejana à qual é dedicado o 5.º programa da 10.ª e última série do Cuidado com a Língua!, em repetição na RTP 1 na terça-feira, dia 21/04, às 14h30*.
*Hora oficial de Portugal continental, com repetição igualmente na RTP Internacional.