Um dia destes perguntaram-me se conhecia o termo alentejano manajeiro. E a minha resposta foi pronta, que sim – pois, com a minha família ligada à agricultura, esta expressão fez parte do meu quotidiano durante os 18 anos que vivi na região. Vejamos, então, quem era este manajeiro, ou esta manajeira, se se tratar de uma mulher.
Com origem no francês ménager, manajeiro designa a pessoa que dirige o trabalho das ceifas ou outros semelhantes. Por outras palavras, um(a) capataz(a). Não podemos esquecer, no entanto, que o Alentejo é uma região vasta, e que a variação linguística é uma realidade. É o caso da zona do Alandroal, a um manajeiro denomina-se manaita (Revista Lusitana, vol. IV, pág. 66).
Muitas outras expressões destas fizeram (e fazem) parte do meu vocabulário, com origem na região sul de Portugal. Alusivo ainda à faina agrícola, quando as temperaturas atingem os 40 ºC, é frequente ouvir dizer-se que o sol almareia – ou seja, dá tonturas ou vertigens – e que o melhor é pôr um chapéu na cabeça, porque a lavoura não pode parar. Claro que o sol não almareia só as pessoas que trabalham no campo, almareia todos aqueles que andam à estorreia do Sol (andar ao sol), na hora da calma (hora do calor).
E no inverno, que sequelas traz o frio? Lembro-me bem do meu avô, que se levantava cedo para ir para o campo, se lamentar ao fim do dia de trabalho, sobre a rijeza (frio) que tinha estado naquele dia, e que lhe tinha criado frieiras nas mãos, no nariz e nas orelhas. Dizia-mo enquanto, sentado perto da lareira, se aquecia. Mas claro que, entre um queixume e outro, acabava a rogar pragas ao lume que ardia na lareira e que, por estar demasiado forte, o fazia criar cabras (queimaduras) nas pernas... e para cabras já lhe bastava o moitão (muitas) que ele pastoreava todos os dias do ano e que lhe pregavam cagaços (sustos) por, volta e meia, se escapulirem pelos campos fora.
Era quando lhes chamava gandulas (vadias) – termo que, apesar de se aplicar mais a seres humanos, servia perfeitamente para os seus bichos mais fugidios. E ainda se queixava (era um homem que adorava queixar-se, o meu avô...) de que, por culpa delas, tinha os pés cheio de borregas (bolhas), porque as suas botas não eram próprias para correr. Borregas ou roeduras – afinal, quem não sabe que os sapatos, principalmente os novos, nos roem os calcanhares?...
É tão bom regressar às origens e lembrar estas histórias e estes termos que, até há 10 anos, eram comuns nas minhas conversas!... Melhor ainda é perceber que, mesmo que os tenha posto de parte para dar lugar a outros mais comuns, eles não se me foram (para o esquecimento): estão tão vivos como antes na minha cachola (cabeça)....
Nota: O texto tem em consideração expressões utilizadas na zona de Serpa, na região do Baixo Alentejo. As mesmas podem variar no território alentejano.
CF. Cuidado com a Língua! Monte alentejano e Cuidado com a Língua! Évora