1. O português foi levado para o Brasil nos inícios do século XVI. Aí contactou com as línguas das populações indígenas, com as línguas africanas trazidas pelos escravos e ainda com as línguas dos povos que, sobretudo a partir dos meados do século XIX, emigraram para o Brasil. Tendo sofrido um processo evolutivo próprio, o português do Brasil apresenta atualmente características gramaticais que o distinguem do português falado na Europa, um facto que periodicamente alimenta posições "separatistas" que advogam que estamos já perante duas línguas autónomas e não perante duas variedades da mesma língua. Esta perspetiva foi recentemente defendida pelo linguista Fernando Venâncio, que sustentou que a evolução linguística ocorrerá no sentido do afastamento gradual dos dois idiomas, uma visão que gerou uma grande controvérsia. Entre os que assumem uma posição discordante encontra-se o gramático brasileiro Fernando Pestana, que, no seu apontamento intitulado «Não é de hoje...», sustenta que o fenómeno da emigração aproxima o povo português e o brasileiro e mantém o idioma unido na sua diversidade (partilhado, com a devida vénia, na rubrica Controvérsias). A questão da diversidade é também pertinente quando se considera o próprio português do Brasil, que, no seu interior, evidencia diferenças muito acentuadas em particular na oralidade e em planos mais específicos como o léxico ou a sintaxe. Este fenómeno coloca questões muito complexas quando se observa que ele pode funcionar como um fator de segregação social, sendo uma barreira ao sucesso escolar. É neste plano que, segundo o professor universitário brasileiro Ricardo Cavaliere, a questão da norma e do seu ensino se pode tornar muito relevante, pois, como afirma, «praticamente todo o processo educacional do indivíduo se faz pela linguagem, seja em língua oral ou escrita. A capacidade de atuar como sujeito agente e sujeito receptor dos padrões de língua oral e escrita revela-se, pois, indispensável para uma completa formação educacional. Com efeito, leitores incipientes têm maiores chances de insucesso na vida profissional em face da incapacidade de enriquecer o conhecimento das coisas e do mundo pela autoinstrução.» (partilhamos, com a devida vénia, a primeira parte do artigo).
No acervo do Ciberdúvidas estão disponíveis muitos textos sobre questões linguísticas relacionadas com esta temática. Entre eles destacamos: «Brasil, Portugal e esta língua que nos (des)une»; «E o Brasil criou uma língua. Também é português»; «É prunúncia purtuguesa, ó pá!»; «Por que é melhor não tratar ninguém por “você” em Portugal»; «Eu digo “Brasiu’, ele diz ‘Purtugal’»; «Bilinguismo luso-brasileiro»; «Sobre o português do Brasil».
Primeira imagem: criada com inteligência artificial.
2. A significação da palavra obsoleto dá matéria ao apontamento da consultora Inês Gama, no qual aborda também as relações de sinonímia e de antonímia que estabelece com outros termos (divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2).
3. Na atualização do Consultório, partilhamos um conjunto de respostas relacionadas com temas lexicais, desde a significação de palavras e expressões, à sua forma correta ou grafia, passando pela sua classificação: «O verbo repercutir»; «A expressão «estar a fim de (algo/alguém)»»; «O gentílico de San Diego (EUA)»; «O substantivo míni»; «Nome comum coletivo: nação». Incluímos, ainda, um conjunto de questões de natureza sintática: «Complemento oblíquo: «passear pelo jardim»», «O verbo vestir»; «A conjunção que e ênclise pronominal». Por fim, trata-se um aspeto de pragmática relacionado com os atos ilocutórios: «Ato ilocutório diretivo indireto: «Agora é tempo de...»».
4. Entre os acontecimentos de interesse, destacamos:
– O Ciclo de debates na Biblioteca Nacional de Portugal, intitulado «Camões: entre a História e a Lenda», que, na quarta-feira, dia 13 de novembro, pelas 17h, contará com a presença de Carlos Bobone e Vanda Anastácio;
– A atribuição do Prémio Jabuti à escritora brasileira Marina Colasanti, considerada a Personalidade Literária da 66.ª edição.