1. A propósito da meia-final disputada neste dia entre as seleções de futebol de Portugal e do País de Gales no Euro 2016, o consultório recebe uma nova resposta que aborda precisamente o uso do nome deste país que faz parte do Reino Unido. Curiosidade suplementar: no País de Gales, coexiste com o inglês uma língua mais antiga, do ramo céltico, o galês. Como a história linguística do território português não é alheia às línguas célticas, poderia supor-se alguma relação entre o elemento -gal de Portugal e a forma Gales, mas trata-se de hipótese improvável: -gal representa Cale (a atual Gaia ou o próprio Porto), topónimo relacionável com a raiz pré-romana *kal-, de origem obscura, que significaria «pedra» e que talvez se encontre encerrada no nome latino Callaecia, que deu Galiza; já Gales, como o inglês Wales, remontará ao anglo-saxão walh ou wealh «estrangeiro», termo que os antigos germanos tomaram da tribo céltica dos Volcas, para identificar qualquer comunidade de fala céltica. Diga-se ainda que, em galês, o país em apreço se chama Cymru, vocábulo que nada tem que ver com inglês nem com o anglo-saxão; na verdade, é uma palavra céltica – de combroges, «compatriotas» –, que corresponde a Cambria em latim e que daqui passou ao português como Câmbria, forma muito pouco usada, embora sinónima de País de Gales.
2. Ainda no consultório, assinala-se a diferença entre os adjetivos emotivo e emocionante, e comenta-se a relação de muito com duas classes de palavras. No Pelourinho, um apontamento de Filipe Carvalho comenta os erros resultantes de uma deficiente aplicação das novas regras ortográficas oficialmente em vigor no país desde 2012, assinalados na página oficial da Presidência da República Portuguesa. Ainda sobre o Acordo Ortográfico, e na respetiva rubrica, fica em linha um trabalho do jornalista brasileiro Marcos Nunes Carreiro; publicado no Jornal Opção (3/07/2016), nele se pergunta por que razão há países de língua oficial portuguesa ainda à espera de o aplicar.
3. Juntando-se às muitas interrogações levantadas pela saída britânica da União Europeia (o Brexit), reabre-se o debate sobre o sistema de patentes europeu, iniciativa que exclui a língua portuguesa apesar das muitas críticas* nesse sentido. Num artigo publicado no jornal Público (6/07/2016), Gonçalo de Sampaio, presidente do Grupo Português da Associação Internacional para a Protecção da Propriedade Intelectual, apela à ação: «O Brexit abre um conjunto alargado de incertezas ao projecto da Patente Europeia de efeito unitário e do seu Tribunal, devendo-se aproveitar o momento para melhor salvaguardar as empresas nacionais. Esta é uma oportunidade de repensar o sistema que, tal como está, não beneficia o tecido empresarial português e aumentará o fosso, na área da inovação tecnológica, entre os países mais desenvolvidos e os restantes.» O artigo fica também disponível na rubrica Lusofonias, na área temática correspondente (Patentes em português).
* Leiam-se os seguintes artigos: "Portugal não deve aderir ao Acordo da Patente Europeia" (2008); "Um atentado clandestino contra a língua portuguesa" (2010); "Patente da UE: um imperativo nacional" (2011); "A bravata serôdia contra o português" (2015).
4. A respeito dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa:
– No Língua de Todos de sexta-feira, 8 de julho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 9 de julho, depois do noticiário das 9h00*), a professora Sandra Duarte Tavares fala do uso correto da vírgula.
– A Base de Dados Terminológica e Textual (BDTT) é um recurso que resulta da colaboração multidisciplinar entre o núcleo de tradução do Gabinete de Relações Internacionais e Protocolo da Assembleia da República e o Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa. O Páginas de Português de domingo, 10 de julho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), conversa com a coordenadora da BDTT, a linguista Rute Costa.
* Hora de Portugal continental.
5. Como aqui foi explicado, embora a atividade do consultório linguístico faça um intervalo até ao próximo mês de setembro, a Abertura continua a assinalar as atualidades protagonizadas pela língua portuguesa, além de registar a publicação de novos conteúdos em linha. Para assuntos fora do âmbito gramatical e linguístico, agradecemos que nos contactem neste endereço.