O que fica ilustrado ao lado* até pode ser apontado, como foi, como mais um caso do invocado «caos ortográfico» propiciado com a entrada em vigor das novas regras. Nada mais simples e redutor. Do que se trata, acima de tudo, é de caso(s) de absoluto desleixo e falta de rigor no bom uso da língua no espaço público – tão mais inaceitável por vir de onde vem e pelo facto* de os erros irem muito além das discrepâncias entre a nova e a anterior norma ortográfica do português. ***
* in "Tradutores contra o Acordo Ortográfico", com a devida vénia pela utilização das duas ilustrações.
** Facto sempre se escreveu e continua a escrever-se com o c intercalar, em Portugal. Assim como o mau emprego das maiúsculas e das minúsculas, do hífen ou das consoantes (não) articuladas só se revelam incompetência e desprimor pelo idioma nacional.
*** A Presidência da República Portuguesa, como todo e qualquer organismo do Estado do país, passou a aplicar o Acordo Ortográfico desde janeiro de 2012. E, desde a primeira hora, adotou as novas regras em toda a sua comunicação oficial, nomeadamente na respetiva página oficial na Internet, com rigor e sem erros ou enganos. Para isso, como qualquer entidade pública, privada ou mero cidadão a título individual, teve (e continua a ter) ao seu dispor, e gratuitamente, um vasto conjunto de recursos e ferramentas informáticos que permite a formação básica e o mais elementar esclarecimento de quaisquer dúvidas sobre o que, de facto, mudou e não mudou na nova norma ortográfica. Se esse cuidado no seu cumprimento escrupuloso se verificou no mandato de Aníbal Cavaco Silva – como não podia deixar de se verificar no topo da hierarquia do Estado português –, qual a explicação, então, para acontecer exatamente o seu contrário, agora com Marcelo Rebelo de Sousa? Nem o envolvimento político e as opiniões distintos de um e de outro sobre o Acordo Ortográfico justificam a colocação de textos tão descuidadamente escritos na página oficial da Presidência da República Portuguesa.