1. Depois da autorização dos EUA para as forças militares ucranianas usarem mísseis de longo alcance, ganham relevo informações incertas de uma resposta armada da Federação Russa, que teria lançado um «míssil balístico intercontinental», mas que o presidente Vladimir Putin afirma ser um «míssil balístico experimental». De mísseis também se fala a respeito da guerra no Médio Oriente (ler aqui e aqui). E, enquanto o encerramento da COP29 deixa dúvidas sobre uma concertação mundial para defesa do ambiente, foca-se uma vez mais o rescaldo das eleições nos EUA, desenhando-se, segundo alguns analistas, uma "mudança de regime", no sentido plutocrático. Míssil e a família de palavras de plutocrata tornaram-se recorrentes na comunicação social, e, portanto, vale a pena deixar um rápido comentário a cada uma. Como se assinala numa resposta em arquivo, míssil é originalmente um adjetivo que, por conversão, se emprega sobretudo como nome; a palavra vem do adjetivo latino missĭlis, e «lançável, arremessável», mas a sua difusão em português, que se regista, pelo menos, desde 1881 (Dicionário Houaiss), deve ter sido motivada, como noutras línguas, pela expressão francesa «arme missile», que se reduzia elipticamente a missile. Relativamente a plutocrata, é, como plutocrático, palavra da família de plutocracia, termo surgido em português por volta de 1870 e originário do grego, mas não por via direta. Com efeito, o vocábulo plutocracia terá sido motivado pelo inglês plutocracy e francês ploutocracie, palavras de intenção pejorativa que significam em ambas as línguas «governo exercido pelos mais ricos», adaptando o grego ploutokratía, composto formado pelos radicais de ploutos, «riqueza», e krátos, «força, poder, autoridade». Não dando a etimologia a essência do significado hodierno das palavras (leia-se, do filósofo André Barata, "Etimologia", Público, 15/11/2024), parece, mesmo assim, que a presença de míssil e plutocracia no discurso mediático não promete vida sossegada para todos.
Fontes de informação: Dicionário Houaiss, Trésor de la Langue Française e Online Etymology. Sobre «míssil balístico» e «míssil intercontinental», ver as subentradas a míssil no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa. Consultem-se ainda a Abertura de 22/03/2024 e "Dividocracia" (14/07/2011), de Paulo J. S. Barata. Crédito da imagem: Gerd Altmann, Pixabay, 22/112024.
2. Se não fosse dramática ou trágica, dir-se-ia que a atual situação internacional tem o seu quê de rocambolesco. A este adjetivo, dedica a consultora Inês Gama na rubrica um apontamento na rubrica O Nosso Idioma, texto em que outro adjetivo sufixado por -esco, quixotesco, é igualmente objeto de atenção.
3. Apesar do panorama sombrio apresentado por muitas notícias, noutras áreas de atividade fala-se em ansiar por algo positivo, por exemplo, uma vitória num campeonato desportivo. Mas não é objetivo fácil, a começar na gramática, como assinala no Pelourinho a consultora Sara Mourato, que comenta o erro cometido pelo treinador de um famoso clube do futebol português ao conjugar o verbo ansiar.
4. Diz-se «foi-se embora» ou «foi embora»? A esta, juntam-se seis novas respostas, no total de sete que atualizam o Consultório, onde também são tópicos em questão: a colocação dos pronomes átonos depois das locuções «antes de» e «depois de»; o uso intransitivo do verbo arder; adjuntos adverbiais que encerram apostos; o emprego correto da construção «ser fácil de»; a classificação de pão como nome contável e não contável; e a expressão regional «em moco».
5. Temas dos projetos que o Ciberdúvidas desenvolve em vídeo:
– a partir da expressão «ficar em Timor», esclarece-se a noção de predicativo do sujeito e a sua associação a verbos copulativos no episódio 7 de "Ciberdúvidas Vai às Escolas", no qual participou a Escola Portuguesa de Díli, em Timor-Leste;
– no episódio 10 de "Ciberdúvidas Responde", fala-se do plural de bolo-rei, em alusão da quadra natalícia, que se avizinha.
6. Nas Notícias, dá-se conta da chamada de trabalhos para a 11.ª Conferência sobre Línguas Pluricêntricas e suas Variedades Não-Dominantes (11th International Conference on Pluricentric Languages and their Non-Dominant Varieties), que decorre de 22 a 24 de maio de 2025, no Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, em formato híbrido.
7. Registos com interesse para o debate da situação da língua portuguesa nos dias de hoje:
– o artigo de opinião "O que é um erro de português", que o professor e linguista José Luís Landeira assinou no Público Brasil em 16/11/2024;
– o texto intitulado "Língua portuguesa e os desafios da Inteligência Artificial", de Ana Paula Laborinho, diretora em Portugal da Organização dos Estados Ibero-Americanos, e incluído no Diário de Notícias, em 18/11/2024.
8. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:
– A entrevista a Ana Sousa Martins, coordenadora do projeto Ciberescola, galardoado com o Prémio Sonae Educação, na edição de 2024, em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 22/11/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*);
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 24/11/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 30/11/2024, às 15h30*), emite-se uma entrevista com os professores Cristine Gorski Severo, Ezra Alberto Chambal Nhampoca e Ezequiel Pedro José Bernardo sobre a obra Políticas Linguísticas Educacionais em Contextos Africanos.
Mencione-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.