A obra Políticas linguísticas educacionais em contextos africanos, organizada por Cristine Gorski Severo, Ezra Alberto Chambal Nhampoca e Ezequiel Pedro José Bernardo, aborda o contexto educacional africano. Esta publicação, com a chancela da Mazza Edições e disponível gratuitamente em linha, é composta por trabalhos, em língua portuguesa e inglesa, que prestam especial atenção às variedades do português e ao seu ensino nos contextos de Angola e Moçambique. No fundo, o seu objetivo principal é, como assinalam os organizadores, partilhar com os leitores a experiência africana de modo a contribuir «para um debate global sobre os desafios enfrentados pelas políticas linguísticas educacionais, elucidando a importância desse campo de pesquisa e reflexão» (pág. 10).
Esta edição inicia com um prefácio, da autoria do professor Bento Sitoe (Universidade Eduardo Mondlane), que argumenta a favor de políticas de uma educação multilingue em Moçambique, e está dividida em oito capítulos que se focam particularmente em casos angolanos e moçambicanos. Neste sentido, entre os vários capítulos, destacamos o primeiro capítulo, designado «políticas linguísticas educacionais em contextos africanos: por um olhar do sul global», da autoria de Cristine Gorski Severo (UFSC/CNPq), Erza Alberto Chambal Nhampoca (Universidade Eduardo Mondlane; Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) e Ezequiel Pedro José Bernardo (ISCED-Cabinda); o quarto capítulo, denominado «políticas linguísticas educacionais: um olhar sobre a implementação da modalidade de ensino bilíngue em Manhiça – Moçambique», de David Alberto Seth Langa (Universidade Eduardo Mondlane); e o quinto capítulo, intitulado «política educacional e qualidade do ensino em Angola: um olhar sob a lente da língua de escolarização», de Nicolau Nikiawete Manuel (Universidade Agostinho Neto).
No primeiro capítulo, são discutidos, de modo geral, os conceitos de edução e de políticas linguísticas educacionais em contextos africanos. Para além disto, é igualmente defendido pelos autores desta secção um reconhecimento da experiência educacional de países africanos, bem como o contributo que vários casos do ensino multilingue em África podem ter na ampliação da discussão e debate sobre o ensino de línguas. Nesta perspetiva, explora-se também a importância do pensamento filosófico de países como Moçambique e África do Sul, conhecido como Ubuntu, enquanto «elemento norteador do que se entende por educação, de forma geral, e ensino e aprendizagem de línguas, de forma específica» (pág. 32).
No quarto capítulo, é analisado um projeto de implementação de ensino bilingue em Moçambique, no distrito de Manhiça. Todavia, esta análise dá conta que apesar de existir um ambiente político favorável ao crescimento do ensino bilingue em Moçambique, determinadas atitudes linguísticas relacionadas com o português levam a que muitos encarregados de educação optem ainda pela modalidade de ensino monolingue em detrimento da modalidade bilingue.
No quinto capítulo, são debatidas as políticas educativas em Angola, com enfoque no ensino de línguas. Além disto, são ainda problematizadas algumas das fragilidades existentes na formação de professores, tendo em conta o contexto educativo angolano. Neste sentido, o autor deste texto defende um estilo de ensino bilingue que aproveite determinadas capacidades cognitivas das crianças, nomeadamente nas zonas rurais, onde a expressão do português não é tão dominante como nos centros urbanos.
Resumindo, Políticas linguísticas educacionais em contextos africanos é uma obra a recomendar a quem tenha interesse pelo contexto de aprendizagem bilingue e pela complexa realidade do ensino em África.
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