1. As eleições regionais dos Açores, que tiveram lugar no dia 25 de outubro, ditaram o fim da maioria absoluta do PS Açores, ficando ainda marcadas pela entrada na Assembleia dos partidos Chega, Iniciativa Liberal e PAN, que elegeram pela primeira vez um deputado. A situação política dos Açores é motivo pertinente para que aqui se recorde que a forma correta do adjetivo gentílico correspondente é açoriano, com a vogal de ligação -i-, e não a forma *açoreano (cf. aqui). Foi também a partir do topónimo Açores que o escritor Vitorino Nemésio criou a palavra açorianidade, numa tentativa de designar a personalidade característica daquelas ilhas. Muitos outros autores e pessoas comuns tomaram estas ilhas e todas as suas cambiantes como motivo literário e como base de identidade. Este é o ponto de partida da reportagem de autoria da jornalista Fernanda Câncio, intitulada "Açores, Ilhas inventadas", divulgada no Diário de Notícias.
2. As novas decisões que vão sendo tomadas com vista a procurar controlar a evolução da pandemia, como é o caso, em Portugal, da obrigatoriedade do uso de máscara na via pública, associam-se a palavras e expressões que se vão dispondo na ordem do dia, de forma a dizerem a realidade. É o caso de «inimigo comum», internados, «cuidados intensivos» ou «doente crítico», que marcam a área lexical da saúde e que passam a constar como entradas no glossário A covid-19 na língua. Outras novas entradas marcam quer a evolução da situação quer as medidas e atitudes que vão tendo lugar: «a festa acabou», «alerta vermelho», endurecimento, finados, galopante, «grande incógnita», IVAucher, «Não baixar a guarda», obrigatoriedade, ONU e semiconfinamento.
3. Na atualização do consultório ficam cinco novas respostas a perguntas de ordem muito diversa: Qual a origem do termo macarrónico e a sua relação com macaroni, palavra inglesa usada para designar um jovem pretensioso e afetado? É incorreto ou coloquial o uso de você em lugar de vós? Estará o uso de vós em total declínio? Terá a localidade de Santo Tirso tido o nome de Cidenai na Idade Média? No plano da semântica temporal, qual a diferença entre os valores aspetuais habitual e iterativo? Qual a função sintática de «aos troncos» na frase «Amarraram uma rede aos troncos».
4. O valor económico que uma língua pode assumir é o tema da crónica da professora Edleise Mendes, que reflete sobre o crescimento da língua portuguesa e sobre a importância de se delinearem estratégias que promovam a centralidade desta língua (crónica lida no programa Páginas de Português, na Antena 2, do dia 20 de outubro de 2020).
5. O verbo haver sempre ofereceu dificuldades aos falantes, que nem sempre conseguem resolver as dificuldades que este coloca. Um novo problema relacionado com este verbo é agora equacionado pelo cronista Miguel Esteves Cardoso, que denuncia a sua substituição pela locução «estar disponível», na crónica intitulada "Já não há haver" (divulgada no jornal Público e aqui transcrita com a devida vénia).
6. Alguns diminutivos cuja formação tem uma base erudita são o tema do apontamento do professor João Nogueira da Costa, que inclui no levantamento efetuado palavras como óvulo, fórmula, película, entre muitas outras.
7. No universo do jornalismo de âmbito futebolístico é frequente encontrar atropelos à língua portuguesa. Desta feita, porém, não se trata de uma queda, mas de um grande tombo, como se refere neste apontamento de João Alferes Gonçalves no sítio Clube de Jornalistas e que se transcreve, com a devida vénia, no Pelourinho. Com efeito um jornalista muito desatento falhou, duas vezes, na conjugação do verbo rever, ao afirmar «o árbitro reveu o lance e reveu bem». Dada a gravidade do erro, convém aqui recordar que o verbo rever é um derivado de ver, pelo que assume as flexões deste verbo. Assim: ele viu - ele reviu.
Outros tombos de prolação recorrentes no audiovisual português recordados no apontamento assinado pelo jorrnalista João Alferes Gonçalves, que fica transcrito no Pelourinho são o /cólestról/ (em vez de colesterol, com acento só no último o), o melher (em vez de mulher), a /órganização/ (em vez de organização), o /ófcial/ (em vez de oficial) e o, está visto, nunca mais erradicado óvinte ...
8. Entre as notícias de interesse, destaque para a exposição A Propaganda nas Eleições Presidenciais dos EUA, organizada pela Associação Cultural Ephemera, em colaboração com o CEI-Iscte e o CIES-Iscte e com o Núcleo de Estudantes de História Moderna e Contemporânea e o Núcleo de Alunos de Ciência Política, aberta ao público até 20 de novembro, entre as 10h00 e as 18h00.
9. Registo final para a notícia divulgada pela FundéuRAE * sobre a reestruturação do portal da Real Academia Espanhola. com nova imagem, um motor de busca mais rápido de acesso ao seu "Diccionario de la lengua española" e ao seu consultório linguístico. Foi criado ainda um espaço com termos, expressões e neologismos ainda não constantes do dicionário, assim como jogos de linguagem didáticos, integrando ainda um novo campo de testes para o projeto Língua Espanhola e Inteligência Artificial para o uso do espanhol correto em computadores. Sob o lema Una imagen que lleva a mas de 1000 ("Uma imagem vale mais mais do que mil palavras"), o portal da Academia Real Espanhola passou a dar acesso livre ao seu vastíssimo arquivo de mais de 280 000 volumes, ao longo de 300 anos de história.
*Sigla composta pela junção das siglas de Fundação para o Espanhol Urgente e de Real Academia Espanhola.