1. A norma angolana para a leitura e escrita dos grandes números foi fixada por decreto legislativo presidencial. Trata-se de um documento que procura resolver as ambiguidades provocadas pela hesitação entre diferentes modelos de escrita e leitura de números ao optar pela norma seguida em quase todos os países europeus: a escala longa. Neste decreto angolano determina-se ainda que este será o modelo a adotar no ensino (para mais pormenores, consulte-se a notícia).
Ainda recentemente o Ciberdúvidas divulgou um artigo da autoria de Guilherme de Almeida, licenciado em física e autor do livro Sistema Internacional de Unidades – Grandezas e Unidades Físicas, Terminologia, Símbolos e Recomendações, relativamente à nomenclatura dos grandes números em países europeus e não europeus.
2. Na rubrica O Nosso Idioma, disponibilizamos duas abordagens distintas do conceito de metáfora e algumas ideias saídas de um evento que abordou as relações entre linguagem e sociedade:
— A disposição dos números num relógio é uma metáfora do tempo e da sua passagem. Quem o afirma é Sofia Nestrovski, mestre em teoria literária e colaborada de revistas brasileiras, num artigo onde explora o conceito de metáfora como forma de enriquecimento da língua e do modo de perceção do mundo (originalmente publicado no Nexo Jornal e aqui reproduzido com a devida vénia);
— Ana Martins, consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e responsável da Ciberescola da Língua Portuguesa, apresenta um apontamento que questiona a pertinência da metáfora usada recentemente pelo Papa, que associou a maledicência ao ato de terrorismo. Serão as consequências provocadas pelo ato de dizer mal de alguém comparáveis às que resultam de uma agressão física?
— A importância da linguagem como forma de combate ao populismo foi discutida num encontro realizado em Lisboa. Segundo Ruth Wodak, linguista austríaca, esta perspetiva pode ser desenvolvida por meio da exploração do significado da própria palavra. Defende a linguista que termos como «notícia falsa», «populismo» ou «politicamente correto» só devem ser usados na imprensa se claramente definidos, com conceitos bem claros, sendo de evitar a sua aplicação acrítica a situações distintas. Esta e outras abordagens da realidade por meio da linguagem foram as propostas de diferentes linguísticas presentes no encontro, que podem ser lidas num artigo que se transcreve do jornal Público, da autoria da jornalista Liliana Borges.
3. No Consultório divulgam-se as respostas a várias dúvidas deixadas pelos nossos consulentes: o verbo magoar com o pronome reflexo se é transitivo ou intransitivo? A concordância negativa é sempre feita com duas palavras de sentido negativo? Na frase «Ele foi morto pela faca», qual a função sintática de «pela faca»? Qual o adjetivo adequado: ameaçante ou ameaçador, intimidante ou intimidatório e insultante ou insultuosa? Qual a diferença entre preço e preçário?
4. Na atualidade relacionada com a língua, destaque para o projeto lançado em parceria pelos Institutos Camões e Cervantes, que visa divulgar o potencial do português e do espanhol, através da publicação de obras de diversas áreas (literatura, comunicação, economia ou ciência). Este projeto – no âmbito das comemorações do 5.º centenário da circum-navegação, iniciada por Fernão de Magalhães e completada por Juan Sebastián Elcano – deu já o primeiro passo com o lançamento da obra Camões e Cervantes – contrastes e convergências, de Helder Macedo e Carlos Alvar.
— Uma nota ainda para o termo hacker, que tem estado presente nos media portugueses devido à detenção de Rui Pinto, pirata informático português, num caso relacionado com o Football Leaks. O uso desta palavra levanta de novo a questão da tradução do termo para português, que pode ser resolvida por meio do recurso à expressão pirata informático.
Recorde-se também a distinção entre hacker e cracker e a respetiva tradução para português, numa resposta disponibilizada no consultório (aqui).
5. Temas dos programas de rádio da presente semana produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa: uma conversa com o professor universitário e tradutor Marco Neves a propósito da sua mais recente publicação, o Dicionário de Erros Falsos e Mitos do Português, no Língua de Todos, emitido na RDP África*, onde o autor desmonta erros inventados e mitos sobre a linguagem e seus estudos; e uma entrevista o novo diretor-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), Icanha Itunga, sobre a agenda para a promoção do português, no Páginas de Português, difundido na Antena 2 *.
* Língua de Todos, RDP África, sexta-feira, 25 de janeiro, 13h15 , com repetição no sábado, dia 26 de janeiro, depois do noticiário das 09h00 + Páginas de Português, Antena 2, 27 de janeiro, 12h30, com repetição no sábado seguinte, dia 2 de fevereiro, pelas 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui e aqui.