«São dois mil tumores. Quer dizer que cada pessoa, que cada tumor, “on average”, vai ser analisado por vinte pessoas diferentes. Quanto mais pessoas olharem mais “reliable” vão ser as leituras que elas fazem [...]».
Carlos Caldas, Bom dia, Portugal (RTP 1, 10 de fevereiro de 2014, 8h49)
Há duas ou três décadas, ouviam-se muitos comentários críticos ao facto de os emigrantes portugueses, mormente em França, utilizarem entre si uma linguagem que era um misto de português com francês ou um português polvilhado de galicismos. Associava-se isso a uma certa ostentação cultural, de domínio de uma língua estrangeira. Casos haveria em que isso acontecia, outros – por certo a maior parte – resultariam do mero efeito de contaminação. Alguém que utiliza diariamente uma língua que não a nativa, é quase forçoso que, a dado passo, por esquecimento ou menor uso, intercale na mesma vocábulos da língua com que predominantemente comunica.
Hoje, uma boa parte da emigração lusa é de outro tipo, mais qualificada, mas nem por isso o efeito de contaminação é menor. Lá continua e é quase inevitável, tal como o demonstra esta pequena entrevista do cientista português Carlos Caldas à RTP.
Mais do que apontar a situação, a questão que coloco é porque é que a RTP, que até teve o cuidado de – certamente por se tratar de uma entrevista telefónica, ainda que perfeitamente audível – legendar a peça e colocar plicas nas expressões «on average» e «reliable», não optou por introduzir entre parêntesis a respetiva tradução, «em média» e «fiável». É que, ademais neste caso, quem não saiba inglês não vai conseguir, nem pelo contexto, perceber o sentido das frases...