Será que a epifania para a elaboração do documento a favor de «um novo ministério da diáspora e da língua portuguesas», intitulado “Portugal: potência mundial de soft power*”, foi a covid que infectou o prime minister Boris, Boris Johnson? Ou será um contágio camoniano? O texto, largo e minucioso, foi anunciado cirurgicamente a 10 de Junho, Dia de Camões, de Portugal, das Comunidades Portuguesas e das Forças Armadas O acrescento presidencial da instituição militar à extensa designação só pode dever-se à invasão da Ucrânia. We are haunted pela «operação militar especial». E abominamos o hard power. À insanidade bélica e ao desconcerto do mundo, contrapomos o português suave, que é quando «se transforma o amador na coisa amada».
O termo soft power* é romântico, mesmo em inglês, embora assumindo, por vezes, contornos libidinosos, aqueles que a «porca da política» impõe. O soft power é uma policy que se desdobra em politics. Teorizado por Joseph Nye na década de noventa do século passado, tem como antecedentes duas canções: “Come to me Softly” de Jimmy James – "Won't Cry/Come to me Softly"– e “Softly As In a Morning Sunrise", de Abbey Lincoln. Não fizemos o fact checking cronológico… posto que «amor é fogo que arde sem se ver”».
Não vem ao caso e descaso deste texto o road map das razões apresentadas pelos seus subscritores: consulares, “migrantinas” ou outras. Muito menos aquelas do «reino cadaveroso», de Ribeiro Sanches, que Jorge de Sena haveria de glosar dois séculos mais tarde.
Além das lirics do James e do Lincoln, é justo que enfatizemos o contributo do prime minister Boris, mesmo que ausente da proposta publicada.
Permita-se-nos que nos socorramos de uma expressão portuguesa. É que Deus escreve direito por linhas tortas… Senão vejamos: estava o negacionista Johnson posto em sossego, sem ligar pevide à pandemia, quando no melhor pano caiu a nódoa. Vai daí, um Luís, enfermeiro luso, potentíssimo no seu soft power migrante e diaspórico, tratou do emboscado com tanto desvelo que o deixou fresco como um pepino. O partygate e a visita a Kiev são decorrências da Global Britain.
Agorinha mesmo, Luís Pitarma, enfermeiro involuntário da nossa Baviera, inocentíssimo e profissionalíssimo, tão e tanto que de tais qualidades não pôde dar testemunho no amado solo pátrio, acaba de receber uma medalha. Não cortou narizes como o “tirríbil” Albuquerque. Segundo a segundo atento aos sinais de vida que o software hospitalar lhe fornecia, Luís foi como Jacob servindo Boris com a sabedoria camoniana do soneto. Reiteremos, pois, os agradecimentos ao Premier sem esquecer os vários tratados seculares que se conhecem na brand Windsor!
“Portugal, potência mundial de soft power”, terá na língua o seu bordão. E a rede consular, os institutos e os milhões de emigrantes, essa diáspora porque sim. E factual. Acrescentemos, as transferências, o bacalhau da Noruega, o céltico cozido à portuguesa, o Fifth Empire do Padre António Vieira. And «Ley my heart slowly, / Awaken to you / Cause that's what I'm gonna tell you». Jimmy James dixit. Temos dito. Em português suave.
* Soft power: «força suave», «poder de persuasão», «poder de influência».