1. Língua internacional
É uma língua criada no fim do séc. XIX pelo judeu (de nacionalidade polaca) Ludwik Lejzer Zamenhof* com o propósito de servir para comunicação, a nível de todo o planeta, entre os povos das plúrimas nações e comunidades falantes das existentes línguas étnicas vivas.
* em Esperanto, Ludoviko Lazaro Zamenhofo
2. Língua veicular
Todas as línguas têm uma função veicular dentro da comunidade dos seus próprios falantes. O esperanto não é uma língua de mera veicularidade interna (veicularidade endoglóssica), tal como são as línguas étnicas, mas, sim, diversamente, uma língua de veicularidade transnacional ou transdialética (veicularidade exoglóssica), própria para ligar os falantes de todas as línguas maternas do mundo (nacionais ou regionais).
Ao longo da sua história, o esperanto, além de usado nos congressos, reuniões, correspondência e telecomunicações entre esperantistas de diversos locais do mundo, já foi usado como língua veicular em reuniões políticas de alto nível (exemplo é o caso da comunicação oral nas reuniões entre Franz Jonas, presidente austríaco que em 1970 saudou presencialmente o Congresso Universal de Esperanto em Viena, e o presidente Tito da Jugoslávia), na comunicação entre o Vaticano e o mundo católico (v.g., durante décadas, nas alocuções papais do Natal e da Páscoa), dentro do movimento ecológico internacional e dentro do movimento dos povos indígenas do planeta.
Mais de 30% dos eurodeputados do Parlamento Europeu, falantes e não falantes do Esperanto, subscreveram declarações individuais a recomendar o esperanto como língua veicular oficial ou cooficial para as instituições da União Europeia, a título definitivo ou experimental (a Irlanda ultrapassou 90% dos seus eurodeputados subscritores e Portugal – síndroma de Salazar -- ficou isolado com 0%, sobressaindo a Bélgica com a maioria absoluta e outros Estados-membros com percentagens significativas).
3. Língua não-identitária
A língua é, quase sempre, o principal fator de identidade de um povo ou nação (a par da religião, história, costumes, tradições, folclore e plúrimas peculiaridades culturais). Identidade implica, como contraponto, alienidade no tocante ao conjunto das línguas étnicas dos demais falantes.
O esperanto, por aquilo que é, abre as fronteiras fechadas pelas diferenças entre as línguas étnicas dos seus plúrimos falantes. O esperanto dá acesso privilegiado à comunicação e à cultura no mundo sendo, assim, por natureza e vocação, uma língua inclusiva de toda a Humanidade, em vez de ser uma língua própria de uma comunidade geograficamente limitada de falantes.
É, nesta perspetiva, uma língua não-identitária.
4. Língua supracultural
Cada língua étnica está ligada a uma cultura, da qual é instrumento e expressão. O esperanto não tem uma cultura própria, vista no tradicional sentido sociológico do termo. De facto, a literatura esperantófona produzida ou reflete a cultura do povo em que se integra o respetivo autor ou reflete os valores universais em que se funda, que são comuns a todos os países de prática ou vocação humanista e democrática.
O esperanto tem cerca de 30 000 obras publicadas (entre as quais traduções dos clássicos da antiguidade greco-romana e dos escritores mais premiados da Renascença e da atualidade e também obras criadas por esperantistas, especialmente no campo literário, linguístico e científico). A Vikipédia esperantófona em 2014 atingiu 200 000 artigos.
Em todo o caso, o esperanto não tem uma cultura que o identifique com uma nação ou país em especial, nessa medida sendo cabido dizer-se que é supracultural.
5. Língua planeada
Parece hoje ultrapassada a dicotomia linguística que agrupava as línguas em naturais (v.g., inglês, português, mandarim, concani ou quimbundo) e artificiais (v.g., volapuque, esperanto, ido e interlíngua). Na verdade, nenhuma língua é natural, porque as línguas não provêm da Natureza, ao contrário do Homem, que as produziu. Portanto, o correto será falar-se em línguas étnicas por oposição a línguas planeadas e, por sua vez, dividir estas em endoétnicas (interétnicas) e artificiais (v.g., sol-re-sol, língua planeada musical, apresentada numa corte régia europeia, mas revelada como fiasco).
O esperanto, por oposição às línguas étnicas, que se fizeram por via vulgar, embora sempre com uma maior ou menor componente erudita – seja literária (Shakespeare contribuiu com cerca de 2000 palavras para a língua inglesa), seja reformadora (de planeamento institucional – vide infra) --, foi criado por um erudito em Linguística, através de planeamento interétnico ou interglóssico, ou seja, por seleção metodológica de raízes, afixos e desinências.
Embora, a partir da sua criação, tenha evoluído de modo análogo ao das línguas étnicas, o esperanto, quer na gramática (corpo da língua), quer na semântica (alma da língua) evolui como língua regular, fiel ao seu planeamento, só quanto à estilística (espírito da língua) podendo dizer-se que, tal como as línguas étnicas, ganhou o seu próprio fôlego.
As nuanças, gradações e subtilezas de significado expressas pelo conjunto de todos os lexemas do tesouro lexicológico do Esperanto excedem, em número, as nuanças, gradações e subtilezas de significado exprimíveis através do conjunto de todos os lexemas do tesouro lexicológico de todas as línguas étnicas do mundo (cerca de 6300), devendo-se isso, cientificamente, em grande parte, à aglutinação prolificamente caleidoscópica resultante dessas raízes, afixos e desinências.
6. Língua interétnica
Como acima dito, o planeamento do esperanto é de raiz e foi feito a partir de línguas diversas de plúrimos países. Ao contrário do bahasa indonésio, do Grego moderno, do hebraico moderno, do norueguês moderno ou do romanche unificado – idiomas planeados institucionalmente a partir de duas ou mais variedades dialetais ou diatópicas (e também diastráticas) –, o esperanto fez-se a partir dos ramos românicos, germânico e eslavo das línguas da família indo-europeia (família linguística falada por mais de metade da Humanidade – geograficamente, em quase toda a Europa, em quase toda a América, em quase toda a Oceania e na maior parte da Ásia e da África). O léxico do esperanto deriva principalmente de sete línguas – latim, francês, inglês, alemão, russo, polaco e italiano). Nessa medida, é uma língua interétnica e não monoétnica.
7. Língua naturalista-esquémica
As quase mil línguas planeadas (quase todas criadas nos séculos XIX e XX) têm oscilado entre o naturalismo e o esquemismo. As que se aproximam muito do naturalismo transportam em si muitas das irregularidades das línguas étnicas (anteriormente ditas naturais); as que se aproximam muito do esquemismo, a ponto de, às vezes, com ele se identificarem totalmente, contêm em si um grau de artificialidade que cria, normalmente, rejeição, pelo menos por parte dos destinatários em vista dos quais foram criadas como línguas coloquiais.
O esperanto encontrou um ponto de equilíbrio entre naturalismo e esquemismo, ponto que é, aparentemente, a explicação para a sua longevidade e prolificidade, por comparação com as demais línguas planeadas internacionais.
Descartes é autor dum importante ensaio sobre planeamento duma língua veicular universal, ao qual foi o esperanto buscar, em medida significativa, a sua parametricidade. Outros linguistas (cientistas dos últimos séculos) inclinaram-se, em diverso grau e modo, para a possibilidade de ser criada uma língua que partisse das ideias para os lexemas servindo, pelo seu rigor, como língua científica (apriorística), como tal inadequada para a comunicação coloquial (Fernando Pessoa, num ensaio seu, não estranhamente contraditório, situa-se nesta linha de enfiamento).
O esperanto não foi criado como língua apriorística, mas, sim, propositadamente como língua não-apriorística, destinada à comunicação normal, mas também ao seu uso como língua terminológica, técnica e científica em todos os ramos do saber humano.
8. Língua aglutinante
As palavras em esperanto são, como acima dito, constituídas por raízes e desinências e, muitas vezes, por afixos ou pseudoafixos. A plasticidade e polimorfia daí advindas dão ao esperanto uma super-riqueza semântica praticamente incomensurável em número de lexemas (formados por aglutinação) e de matizes de significado.
Assim, ineditamente, em esperanto, a cada substantivo corresponde sempre um adjetivo e um advérbio (distintos entre si apenas pela vogal final da desinência), independentemente da muita ou pouca utilidade que o adjetivo ou advérbio assim derivados tenha ou não na linguagem coloquial ou erudita.
Como mero exemplo entre imensos exemplos possíveis, pode tomar-se como ponto de partida a raiz “san”, que corresponde a “saúde”, e derivar-se dela, quase automaticamente, uma grande constelação de palavras, cujas correspondentes nas línguas étnicas seriam etimológica e morfologicamente em nada ou quase nada coincidentes (palavras, entre outras, como v.g. saúde, saudável, saneador, salubre, doença, doente, doentio, muito doente, pouco doente, adoentado, enfermiço, convalescença, convalescente, sanidade, sanitário, sanitarista, hospital, edifício hospitalar, hospitalização, desospitalização, cura, curado, recaída, recidiva, sequela).
9. Língua não territorial
Uma língua étnica tem ligação com o território dos seus falantes.
A comunidade dos falantes de esperanto, diversamente, é uma “glossodiáspora”, porque não tem território próprio, tendo-se organizado a partir do projeto do seu criador para a sua positivação multipolar em associações, clubes, congressos, palestras, obras e falantes dispersos por todas as regiões do mundo. Nesta perspetiva, o esperanto é uma língua não territorial.
10. Língua completa
O seu caráter de língua aglutinante dá ao esperanto uma completude de significados e matizes que contrasta com o défice de completude do tesouro lexical de qualquer língua étnica, por mais desenvolvida que esta esteja no campo da literatura (ou oratura), da terminologia e da ciência.
Um exemplo, de entre muitos aduzíveis, é o da expressão inglesa jet lag, que, por via de regra, não é traduzida para as línguas nacionais (excepções: chinês, checo, finlandês, húngaro, grego, islandês, irlandês, japonês, eslovaco). Usa-se, quase universalmente, o anglicismo tal qual.
Para o português, estão propostos como equivalentes os termos «dissincronose», «descompensação horária», «disritmia circadiana» e «síndroma dos fusos horários», mas o uso do anglicismo sobrepõe-se, na prática, a todos estes termos. Em esperanto, foi criado espontaneamente, de várias origens, sem qualquer imposição vinda da Academia de Esperanto, como equivalente, o termo horzonozo, que poderia também traduzir-se, etimologicamente, para português, como «meridianose».
As nuanças do esperanto, derivadas da livre colocação (racional e criativa) dos seus afixos e desinências, tornam-na semanticamente caleidoscópica e poliédrica e, por isso mesmo, completa.
11. Língua propedêutica
Pela sua regularidade (16 regras gramaticais fundamentais, sem excepções) e completude, o esperanto alavanca a aprendizagem de outras línguas e o conhecimento aprofundado da própria língua materna.
A experiência linguística académica realizada no Instituto de Cibernética de Paderborn (Alemanha) é vista, por muitos interlinguistas, como prova acabada dessa excelência propedêutica. De duas turmas (A e B) do mesmo estabelecimento de ensino, na Alemanha, constituídas segundo critérios igualitários, uma (A) tem determinada carga horária anual de língua francesa e a outra (B) tem a mesma carga horária distribuída por ensino de francês e, em menor número, por ensino de esperanto. No exame final, os alunos da segunda turma (B), obtêm melhores resultados na prova de francês do que os da primeira turma (A).
Por exemplo, na China (país do mundo com maior número absoluto de falantes de esperanto), catedráticos das cadeiras de inglês e latim, por experiência própria, recomendam não raramente aos seus discentes a aprendizagem do esperanto como língua facilitadora da aprendizagem daquelas duas, a título de cadeira curricular ou extracurricular. Também por razões propedêuticas, que muitos académicos associam à pré-aprendizagem do Inglês, mas alguns outros preferem associar à pré-aprendizagem do esperanto, é hoje obrigatório, nas escolas primárias oficiais chinesas, o ensino dum novo sistema de caracteres (alheio ao dos ideogramas) de correspondência rigorosa entre grafema e fonema, de tal modo que, dentro desse sistema, um caráter tem sempre o mesmo som e um som da fala é escrito sempre através do mesmo caráter gráfico.
12. Língua profilática
O esperanto, em completa sintonia com a UNESCO, encara as línguas étnicas (todas as línguas vivas do planeta) como parte inalienável do tesouro linguístico universal, quer pelo que elas valem em si mesmas, enquanto suporte de literaturas, oraturas e outras formas de expressão cultural, quer pelo que revelam do processo de criação e evolução da língua e também do pensamento e filosofia de vida subjacentes à cultura dos seus falantes, quer ainda pelo que valem como janela-memória dos seus falantes virada para a perceção, cognição, interpretação e avaliação do mundo exterior a elas. Consentaneamente, a extinção em curso das línguas étnicas do mundo (cerca de 6.300) ou de uma só delas é, para o património imaterial da Humanidade, uma perda irreparável, cuja prevenção todos e cada um dos esperantistas encaram forçosamente como prioridade.
Para cada esperantista, a primeira língua não é o esperanto, mas, sim, sempre, a sua língua materna, ficando o esperanto remetido para o papel de língua residual, na ponta da cauda de todas as línguas étnicas.
A diversidade linguística e a diversidade biológica são inseparáveis como prioridades humanas.
Se a política oficial de preservação e desenvolvimento de cada Nação ou Estado não for baseada na defesa e promoção de todas as suas línguas (nacionais ou regionais), estará condenada à morte, a prazo, a maioria das línguas do mundo, em benefício de algumas, privilegiadas, e, em última análise, em benefício de uma única.
Portanto, o esperanto, quanto mais disseminado estiver, na sua prática ou, pelo menos, na sua recetividade, mais contribuirá para evitar a contaminação, rarefação e extinção das línguas étnicas vivas faladas pela Humanidade.
A política oficial de preservação da língua étnica ou línguas étnicas de cada país (seja, v.g., o português, o manquês ou o quimbundo) passa, necessariamente, pela abordagem, discussão e estudo da magna questão de saber qual o destino, posição e papel dessa ou dessas línguas étnicas na futura ordem linguística mundial, mas, por sua vez, esta questão não pode, à luz da Interlinguística (ramo da Linguística quanto ao estudo das línguas planeadas criadas, sejam elas vivas, ex-vivas, nadas-mortas ou formatadas como mero projeto sem difusão), ficar estrangulada por preclusão preconceituosa da alternativa de opção duma língua planeada, como é o caso do esperanto (aquela que, de entre cerca de mil línguas planeadas, soma mais obras originais e traduções do que todas as restantes somadas).
Apesar das duas deliberações-recomendações da UNESCO para o ensino oficial da língua esperanto nos seus Estados-membros, são talvez menos de 10% os que os que as seguem mais ou menos de perto. Por isso, há, em muitas dezenas de países cursos – oficiais ou privados - de esperanto, além de mestrados e doutoramentos (dentro ou fora da especialidade da Interlinguística).
O problema da preservação das línguas étnicas, talvez porque não dá votos nem audiências, e, também porque, quando conhecido, é tido como não premente ou não impactante no espaço diacrónico da actual geração, está praticamente fora dos programas dos governos da grande maioria dos países (alguns partidos conhecidos da União Europeia, v.g., do Reino Unido e da Itália, já incluíram o ensino oficial do esperanto nos seus programas, mas nenhum deles formou governo).
Curiosamente, a China Popular, apesar de o mandarim, sua língua oficial, ser, lexicologicamente (desde logo, por ser uma língua de ideogramas e não de alfabeto), uma das línguas do mundo que menos parecenças tem com o esperanto, já despendeu, até agora, provavelmente, centenas de milhões de dólares americanos com o ensino (inclusive no canal nobre da televisão nacional) e atividades e eventos atinentes ao esperanto (despendeu milhões no Congresso Universal de Esperanto, realizado em Pequim em 2004, remunera e previdencia pelo orçamento do Estado os dirigentes das suas associações e clubes de esperanto e paga muitas das despesas atinentes ao seu funcionamento e promoção, inclusive contratando todos os disponíveis estrangeiros habilitados como docentes do esperanto na China Popular).
Um cientista americano vocacionado para a sociopolitologia, com anos de residência, docência e pesquisa na China Popular (Ronald J. Glossop), propugna a tese nada implausível de que a estratégia político-linguística chinesa, posta de remissa, no tabuleiro da concorrência de forças entre potências, passa pela utilização do esperanto, guardado para quando a China Popular conseguir ocupar no mundo o lugar hegemónico que os E.U.A., com suporte na língua inglesa, ocupam ainda hoje, no plano político, militar e científico, pela via económica e financeira (os linguistas chineses, muito pragmaticamente, já há muito se deram conta de que o mandarim, pela complexidade do seu sistema de ideogramas, pela quase indetetabilidade e irreprodutibilidade dos seus matizes fonéticos por parte dos falantes de línguas com alfabetos e ainda pela inadequação dos aparelhos auditivo e fonador destes falantes em relação ao mandarim, não reúne condições para um dia poder ser imposto como língua franca mundial).
Há uma distinção importante a ter sempre presente: a língua inglesa, tal como usada hoje, é canibal para as demais, mas a língua esperanto, segundo a dita estratégia política chinesa, funcionaria por si mesma como língua profilática em relação a todas as línguas étnicas do planeta protegendo-as da contaminação e extinção e tornaria assim os falantes destas, de todos os povos do mundo, recetivos a usarem-na como língua segunda em relação à língua materna e, por via disso, como língua primeira, conquanto meramente auxiliar, a nível de comunicação planetária.
13. Língua litúrgica e ecuménica
O esperanto está reconhecido há décadas como língua litúrgica da Igreja Católica e como língua ecuménica do serviço litúrgico da maioria das religiões cristãs (católica e ditas protestantes). É habitual, em cada cidade onde se realiza um Congresso Universal, haver uma missa católica (às vezes celebrada por bispos ou cardeais) ou uma missa ecuménica cocelebrada por pastores de diversas religiões cristãs.
Além disso, a maior parte dos Papas das últimas décadas vêm usando o esperanto como língua de comunicação residual, em contexto plurilingue, na alocução pascal e na alocução natalícia dirigidas aos católicos de todo o mundo.
14. Língua institucionalmente reconhecida e apoiada
O esperanto fez história ainda no tempo da Liga das Nações. O japonês Nitobe Inazō (1862-1933), académico cosmopolita (com cinco doutoramentos), diplomata, estadista, escritor poliglota e cientista do pensamento, enquanto subsecretário da Liga das Nações, participou em 1921 no 13.º Congresso Universal de Esperanto, em Praga, elaborando um relatório oficial sobre o Esperanto e propondo-o como língua de trabalho no seio da Liga das Nações, frustrando-se essa proposta somente por causa do veto da França.
A UNESCO, através de duas resoluções (uma tomada na Conferência Geral de Montevideu em 1954 e outra tomada na Conferência Geral de Sófia em 1985), recomendou a introdução do Esperanto no ensino das Escolas e Universidades de todos os seus países-membros, reconhecendo o seu valor no campo da ciência, educação e cultura. A calorosa mensagem enviada pela diretora-geral da UNESCO, Sr.ª Audrey Azoulay, ao Congresso Universal de Esperanto (103.º), realizado em Lisboa com início em 29.07.2018, lembra o apoio dado pela UNESCO ao ensino do esperanto nos estabelecimentos de ensino dos seus Estados-membros e reconhece a comunhão de objetivos e valores entre a UNESCO e o Movimento Esperantista. O espanhol catalão Federico Mayor Zaragoza, secretário-geral da UNESCO entre 1987 e 1999, foi adepto do esperanto em várias vertentes.
Há mais de uma década que a Associação Universal de Esperanto vem sendo promovida por círculos de eminentes intelectuais como candidata ao prémio Nobel da Paz, estando a língua esperanto também proposta para integração no Património Imaterial da Humanidade.
Em plúrimos países o esperanto goza de proteção especial de natureza económica ou académica (casos da China Popular, Federação Russa, Brasil, Hungria, etc.). Até a Coreia do Norte, apesar do seu isolamento e das limitações telemáticas impostas pelo regime, tem, na capital, um núcleo de dezenas de esperantistas (herdeiros do tempo da clandestinidade durante a ocupação colonial japonesa), contactados neste País em 2017 por um comité triúnviro da chamada Associação de Amizade Franco-Coreana (que assistiu no estádio Kim Il-Sung a um desafio de futebol feminino, em que o público gritava entusiasticamente a favor da unificação da Coreia).
Em Portugal, a Associação Portuguesa de Esperanto tem o estatuto de associação de utilidade pública (decretado pelo então primeiro-ministro António Guterres, em 23.07.1999 – D.R. n.º 180 – II série – de 04.08.1999).
Pela sua presença no leque de línguas literariamente mais prolíferas e maduras, o esperanto está reconhecido como língua literária pelo Pen Club Internacional.
Está reconhecido como língua de comunicação preferencial internacional por plúrimas ONG e pelas principais coletividades ecológicas e representativas de povos indígenas do planeta.
O esperanto foi textualmente reconhecido como língua recomendável na Declaração da 64.ª Conferência das ONG, organizada pelas Nações Unidas, em Bona, Alemanha, em 2011, com vista à Conferência Rio + 20.
A Associação Universal de Esperanto tem um representante permanente junto das Nações Unidas em Genebra, que em 2016 participou na 9.ª sessão dos Mecanismos Experimentais sobre os Direitos dos Povos Indígenas, onde interveio, como tal, a favor do desenvolvimento sustentado e dos direitos humanos dos povos indígenas (EMRVP, 11-15 de Julho de 2016).
Existe um estatuto e uma praxe de relações recíprocas de colaboração oficial entre a Associação Universal de Esperanto, por um lado, e a UNESCO e as Nações Unidas, por outro lado, aqui quer a nível do Conselho Económico e Social da ONU, quer a nível do Departamento sobre Informação Pública. A organização "Esperanto para a ONU e UNESCO” consiste em equipas de representantes esperantófonos em Nova Iorque, Genebra, Viena e Paris. O portal net desta organização (www.esperantoporun.org), além dum boletim informativo (com informações sobre a ONU, traduções para esperanto de documentos básicos da ONU, terminologia, vídeos e outros materiais úteis), publica também a revista Correio da UNESCO (UNESKO-Kuriero), editada na língua internacional esperanto (cujo redactor-chefe é o chinês Huang Yinbao [Trezoro, nos círculos esperantófonos], a par das preexistentes edições oficiais da UNESCO em 6 línguas (inglês, espanhol, chinês, árabe, francês e russo). Em 12.06.2018 teve lugar o 70.º aniversário do “Correio da UNESCO” e, conjuntamente, o 1.º Fórum do UNESKO-Kuriero na sede da UNESCO em Paris. Na opinião, manifestada nesse Fórum, dos redatores das edições chinesa e árabe do Correio da UNESCO, a edição do UNESKO-Kuriero pode ser uma importante ajuda para as edições em chinês e árabe, uma vez que estas línguas nacionais não estão suficientemente apetrechadas para traduzir alguns termos novos e o esperanto, por ser fácil e lógico, ajuda na tradução desses termos.
Em 1999 foi aberta a página oficial Web da Associação Universal de Esperanto.
Em 2008, por ocasião da celebração do centenário da língua esperanto, foi organizado no âmbito das Nações Unidas em Genebra o “Simpósio sobre os Direitos Humanos”, no qual foi usado o esperanto como língua de trabalho.
Em 2013, a cátedra de “Interlinguística e Esperanto”, da Universidade de Amesterdão, foi oficialmente colocada sob controlo da Associação Universal de Esperanto, mantendo-se como respetivo catedrático o Prof. Federico Gobbo.
Entre 30.10 e 02.11.2018 teve lugar, na Universidade de Macau, sob o patrocínio financeiro desta, em língua inglesa, uma conferência internacional sob o título “Avaliação de línguas mundiais”, com conferencistas e público constituídos principalmente por professores universitários, doutorandos e mestrandos dos EUA, China, Hong-Kong, Índia, Grã-Bretanha, Canadá, Portugal, Egito, Espanha, Coreia do Sul, Singapura, etc. Nessa conferência, a propósito do esperanto, foi lembrado por um professor de Esperanto na China que o esperanto é ensinado na China em plúrimos estabelecimentos de ensino, desde escolas do ensino primário até universidades como a de Zaozhuang, na província de Shandong, com a aprovação do governo chinês, e, bem assim, que o Estado chinês tem media mundialmente difundidos em esperanto, quer na imprensa (El Popola Činio), quer na rádio (Čina Radio Internacial). Por sua vez – foi aí também anunciado –, na Coreia, são ministrados cursos de esperanto em que um dos textos de ensino recomendados é a edição em esperanto do Correio da UNESCO.
15.Língua paracósmica
O esperanto foi inserido em mensagens colocadas em sondas norte-americanas de exploração espacial postas em órbita, a par das mais faladas línguas nacionais do planeta, como língua de comunicação com eventualmente existentes seres inteligentes extraterrestres.
Nesta medida, é uma língua projetada no Cosmos.
16. Língua inteligente
O esperanto é usado em escolas de crianças geniais, a par do xadrez e da matemática, como instrumento de estimulação e medição de progresso da inteligência dos alunos que as frequentam.
Umberto Eco, um dos 10 sábios da UNESCO, que deu destaque muito especial ao esperanto como língua planeada no seu livro “Em busca da língua perdida”, chamou-lhe, numa entrevista mediatizada, a «língua ótima».
A dificuldade das línguas étnicas apresentará sempre obstáculos para muitos alunos e discentes, que muito teriam a ganhar em clarividência e desempenho com o conhecimento de uma língua internacional como segunda língua.
Os portais lernu.net e duolingo (este usando a língua portuguesa como língua-veículo) propiciam a qualquer pessoa minimamente vocacionada para línguas a aprendizagem do esperanto sem mestre em curto ou curtíssimo prazo.
Como principal inimigo da inteligência é costume ser apontado o preconceito. Os exemplos são inúmeros. A mosca durante muito mais de um milénio teve quatro patas, porque nenhum estudioso se propôs verificar a verdade da descrição vinda assim da antiga Grécia. A persistência da numeração duodecimal romana, com rejeição do sistema de numeração decimal, apelidado de “cifras dos infiéis” (na verdade, os árabes limitaram-se a importá-lo da Índia), atrasou em séculos o avanço da ciência e do progresso. Em relação ao esperanto, estão generalizados preconceitos, que não poupam a própria comunidade dos linguistas. É o caso da recorrente afirmação de que o esperanto não tem autores nem obras ou de que não tem literatura ou não tem falantes desde o berço. Na verdade, tem tudo isso, tal como tem peças de teatro e suas representações, espetáculos de cabaré parisiense ou de ópera de capitais europeias. O esperanto está reconhecido como língua literária pelo Pen Club Internacional. Há obras-primas originais e traduções de obras-primas. Há países que têm traduzido tudo o que é literatura de qualidade (por exemplo, esperantistas brasileiros traduziram a obra integral de Jorge Amado, de Erico Veríssimo, de Machado de Assis, de José Mauro de Vasconcelos e até do romancista pioneiro José de Alencar, e ainda arranjaram tempo para fazer uma tradução de Os Lusíadas, de Camões). O esperanto combate-se com a exibição da verdade dos factos, mas o preconceituado tende a fugir à confrontação com os factos.
17. Língua neutra
O esperanto foi construído a partir da família de línguas demograficamente dominante no planeta – a indo-europeia. Na sua construção entram lexemas e afixos colhidos dos seus principais três ramos – o românico, o germânico e o eslavo.
A língua portuguesa está entre as cinco línguas do mundo mais parecidas lexicologicamente com o esperanto, havendo muitas palavras grafadas tal como em português, importadas ou não deste.
Sabido que não é viável a criação duma língua planeada que represente glossicamente todas as famílias linguísticas do planeta, o esperanto é, em escala proporcional, uma língua neutra.
A atitude histórica e actual da China perante o ensino do esperanto dentro da própria China tem muito que ver com o caráter neutro desta língua (ligado ao seu caráter propedêutico). Este é o país do mundo com o maior número de falantes desta língua, apesar das enormes diferenças (duas à cabeça – sistema de escrita por ideogramas no lugar dum alfabeto e imensidão de matizes fonéticos que tornam o chinês/mandarim de pronunciabilidade e audibilidade extremamente difíceis para quem não o tenha aprendido desde o berço ou em imersão total muito prolongada).
O esperanto, que entrou nas escolas primárias em 1912 por decreto do ministro da Educação Caj Juanpej e se organiza em Liga Esperantista Chinesa em 1951, sai reforçado em 1982 com o decreto do Governo que o introduz nas universidades como cadeira facultativa dentro do painel das línguas extranacionais.
O norte-americano Prof. Doutor Ron Glossop, ligado ao ensino universitário do esperanto na China, acredita que, logo que a China tenha força económica e política para substituir o inglês como língua veicular universal de facto, fará disseminar o esperanto como língua institucional. Os sintomas desta política de reserva estarão em muitos factos, inclusive o imenso apoio económico que o orçamento de Estado dá para o ensino e promoção da língua (todos os estrangeiros habilitados a ensinar esperanto têm emprego garantido na China; os muitos milhões de dólares americanos investidos na realização com grande pompa e propaganda no Congresso Universal de Esperanto de 2004 em Pequim; a equiparação dos dirigentes das associações regionais e locais de esperanto a funcionários públicos quanto a remuneração e previdência social; etc., etc.). A motivação dessa política de substituição estará no facto de o esperanto ser uma língua neutra e neutral, ser propedêutica (é recomendada por catedráticos chineses de Linguística como facilitadora na aprendizagem do inglês, latim e outras línguas europeias) e ser a língua mais fácil de aprender e falar, em termos de regularidade gramatical não só para os falantes das línguas indo-europeias (em maioria no mundo) mas também para todos os demais povos (outra coisa é, obviamente, a facilidade vista, como habitualmente é, pelo ângulo da proximidade lexicológica entre a língua parental, ponto de partida, e a língua objeto de aprendizado, ponto de chegada).
18. Língua neutral
O esperanto foi proibido e perseguido por regimes ditatoriais de sinais contrários (v.g. Estaline, Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Ceaucescu, Enver Hoxha). A acusação que serviu de pretexto a essa perseguição foi ideológica (ultraesquerdismo, semitismo, capitalismo, etc.), mas o esperanto nunca se identificou nem esteve ao serviço de ideologia alguma, de esquerda ou de direita, nem sequer se colocou ao lado dos partidos europeus que incluíam no seu programa o ensino do esperanto nas escolas e/ou o seu uso como língua de trabalho na União Europeia.
19. Língua democrática e democratizante
A desigualdade linguística dá causa à desigualdade na comunicação entre falantes das plúrimas línguas a todos os níveis, inclusive a nível internacional.
O esperanto, porque, se usado à escala oficial planetária, serviria a comunicação internacional em condições igualitárias ideais, é, neste ângulo, uma língua democrática e democratizante.
20. Língua objeto dum Direito Humano
As múltiplas diferenças potenciais entre as línguas étnicas minam as garantias expressas, em abundantes documentos internacionais, de tratamento igualitário e não-discriminatório entre falantes das diversas línguas.
O esperanto é a melhor solução encontrada até hoje para assegurar a preservação e afirmação do direito à língua própria de cada comunidade de falantes (língua nacional, regional ou microrregional) e também para assegurar a realização do direito à língua internacional apropriada, de todos os falantes em geral, ambos direitos fundamentais ou humanos no campo linguístico.
Porque a língua apropriada em termos de veicularidade internacional deve necessariamente assegurar a preservação da identidade e existência das línguas nacionais, regionais e indígenas do mundo; porque essa preservação só pode ser assegurada por uma língua neutra; porque essa neutralidade não pode ser conseguida senão através de uma língua planeada; e porque o esperanto, entre mais de 1000 projetos elaborados de línguas, foi o único que subsistiu e se afirmou como língua acabada (com mais obras publicadas – acima das 40 000 – do que todos os demais projetos) – é forçoso concluir que o esperanto como língua é objeto dum Direito Humano.
No enfiamento da ideia e desiderato do reconhecimento do esperanto como objecto dum direito linguístico fundamental, têm vindo a ser produzidos, em número crescente, em línguas nacionais, textos relacionados com a comunhão de ideias e esforços entre a UNESCO e o Movimento Esperantista Mundial.
N.E – Para este texto, o autor utilizou comentários gentilmente feitos pelo interlinguista Gonçalo Neves sobre uma versão anterior, assim como, entre muitos outros, dados colhidos no livro International Planned Languages – Ensaios de Interlinguística e Esperantologia, ed. Mondial, Nova Iorque, de 2018, do interlinguista catedrático Detlev Blanke, e no livro A língua perigosa, do historiador catedrático Ulrich Lins.
Cf. Descubra o Esperanto + Comunismo em palavras + Congresso Universal de Esperanto