Embora os dicionários continuem a dar-lhe todo o destaque, o advérbio aonde é cada vez menos utilizado, sendo já sentido por alguns como regionalismo, ou, mesmo, arcaísmo. Não havendo, do ponto de vista gramatical, qualquer razão para o seu desaparecimento, o certo é que, como deixam antever Cunha e Cintra na Nova Gramática da Língua Portuguesa, p. 351, o seu uso nunca foi consensual.
O advérbio aonde nasceu da contracção ocorrida entre a preposição a e o advérbio onde, do mesmo modo que donde corresponde à contracção da preposição de e do mesmo advérbio.
Acontece que a situação que justifica a ocorrência simultânea da preposição e do advérbio se mantém: trata-se de preposições que se associam a verbos de movimento e que nos permitem identificar as características da deslocação, enquanto processo («Por onde vais?»); enquanto ponto de partida («Donde vens?») ou enquanto ponto de chegada («Aonde vais? Para onde vais?»).
Talvez porque o próprio verbo ir já encerre em si a ideia de ponto de chegada (ir é sempre ir a/para algum lugar), o advérbio aonde seja sentido como redundante e se não tenha generalizado, pois os autores citados acima referem que já nos clássicos se verificava alguma oscilação entre o uso de onde e de aonde. Porém, isso acontece apenas se a preposição for a, pois se for para (que indica, habitualmente, uma deslocação mais prolongada no tempo) a estrutura mantém-se «Para onde vais?»
Note-se que quando o verbo ir ocorre sem o advérbio interrogativo, não prescinde da preposição: «Vou a Lisboa; Vou ao cinema, etc.»
Em síntese, verifica-se uma tendência bastante acentuada para a utilização de onde em vez de aonde nas interrogativas com o verbo ir. Tendo em conta esta situação, creio que a gramática para estrangeiros da Porto Editora está correcta, pois veicula informação sobre a prática mais corrente, mais usual, aquela de que um estrangeiro vai, afinal, ter mais necessidade.
Gostaria ainda de deixar uma breve nota acerca da frase que submeteu à nossa apreciação: «As lojas onde vou são no Rossio.»
eu preferia utilizar o verbo ficar em vez de ser: «As lojas onde vou ficam no Rossio», porque, numa informação genérica, é, sobretudo, esse o verbo que utilizamos. O verbo ser, em frases como esta, surge quando a frase corresponde à resposta a uma pergunta do tipo:
P – Onde é X?
R – X é no Rossio.