Na edição digital da Imprensa Nacional da obra Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco, no capítulo I, o narrador afirma que leu, no cartório da Cadeia da Relação, a informação sobre a entrada na prisão de Simão Botelho, nas páginas «[…] das intradas dos presos desde 1803 a 1805» (pág. 17). Ora, como Simão nasceu em 1784, como é indicado mais à frente no capítulo I, poder-se-á interpretar que este terá sido preso em 1803, ano do seu décimo nono aniversário, mas, muito provavelmente, antes do seu dia de anos, tendo, portanto, na época da sua entrada na prisão ainda 18 anos. Tendo em conta esta interpretação, poder-se-á, então, assumir que não há nenhuma incoerência de datas.
Todavia, segundo Lupi Bello em "Narrativas literárias e narrativas fílmica: o caso de Amor de Perdição", Camilo usa as datas em Amor de Perdição de forma pouco rigorosa, o que leva «a cair em imprecisões temporais, umas vezes, aparentemente, por mero descuido seu e outras por atender, acima de tudo, ao simbolismo de que elas estão embebidas». Portanto, há também a possibilidade de a idade referida como entrada na prisão ser uma idade simbólica e não a idade exata do protagonista. Neste caso, os dezoito anos de Simão são o simbolismo da idade dos sonhos e ideais.
O livro Amor de Perdição é considerado a novela sentimental mais famosa do Romantismo português. Foi, pela primeira vez, publicado em 1862, tendo sido escrito por Camilo Castelo Branco durante o tempo em que esteve preso por adultério na cadeia da Relação do Porto. O enredo da obra centra-se na história de amor entre Simão e Teresa, membros de duas famílias rivais de Viseu, os Botelhos e os Albuquerques. Como intermediária entre Simão e Teresa, está Mariana, uma rapariga do povo, que nutre um sentimento amoroso por Simão. É em torno deste triângulo amoroso que gira a narrativa de Amor de Perdição.
Em suma, Amor de Perdição constitui uma obra passional e trágica que, segundo alguns estudiosos da obra camiliana, tem como intenção a crítica social e a denúncia da obediência cega da sociedade ao preconceito obsoleto da honra familiar.