DÚVIDAS

O uso do sujeito posposto

Queria saber quando é que se deve usar um sujeito posposto no lugar de um sujeito anteposto.Há casos em que um me soa melhor do que o outro, o que me leva a pensar que talvez haja regras por detrás disso. Como gosto de falar bem a minha língua, agradecia que alguém me elucidasse quanto a este assunto.

Deixo também alguns exemplos que talvez vos ajudem a entender melhor aquilo que estou a dizer.

• São tuas as fotos que estão em cima da mesa da sala? • As fotos que estão em cima da mesa da sala são tuas?

Neste caso, a primeira frase soa-me muito mais natural do que a segunda.

• Estão umas fotos em cima da mesa da sala. São tuas? • Umas fotos estão em cima da mesa da sala. São tuas?

Neste caso, a primeira também me soa muito mais natural do que a segunda.

Como puderam ver, em ambos os exemplos, apenas a opção pelo sujeito posposto soa natural, mas não sei o porquê. Será que é puramente uma questão de hábito ou há regras por detrás da escolha de um no lugar do outro?

Muito obrigado desde já.

Resposta

A posição neutra ou canónica do constituinte com função sintática de sujeito é a pré-verbal, ou seja, a colocação do sujeito antes do verbo.

A opção pela posição pós-verbal pode prender-se com a intenção de colocar o foco noutro constituinte da frase, como acontece na frase (1), na qual se pretende destacar o complemento direto:

(1) «O bolo, fê-lo o João.» 

Podemos assinalar ainda um conjunto de contextos sintáticos que, habitualmente, suscitam a posposição do sujeito ao verbo:

(i) orações interrogativas, introduzidas por pronomes e advérbios interrogativos (quem, que, o que, quanto, qual, como, quando, onde…), que não sejam sujeito: «Onde foi o João

(ii) orações exclamativas: «Que inspirador era aquele livro

(iii) com a forma imperativa: «Faz tu este trabalho!»

(iv) orações subordinadas substantivas completivas com função de sujeito: «É certo que vamos contigo

(v) orações reduzidas de gerúndio ou participiais: «Fazendo o trabalho, percebi a sua dificuldade.», «Feito o trabalho, fui descansar.»

(vi) orações subordinadas adverbiais condicionais construídas sem conjunção: «Pensasse ele em ti, nada teria acontecido.»

(vii) orações absolutas construídas com o verbo no conjuntivo para denotar ordem ou desejo: «Que venha o calor

(viii) orações intercaladas de citação «- Vamos - disse ele

Relativamente às frases apresentadas pelo consulente, a posposição do sujeito é entendida como a posição mais natural devido ao contexto enunciado em (i), a que acresce uma construção de foco, no segundo grupo de frases. Note-se, todavia, que nas várias situações a colocação do sujeito pode ser pré-verbal ou pós-verbal.

Disponha sempre!

 

Nota. Foram consultadas as gramáticas: Bechara, E., Moderna Gramática Portuguesa. Editora Nova Fronteira, 2009; Cunha, C. e Cintra, L., Nova Gramática do Português Contemporâneo. Ed. Sá da Costa, 1988. 

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