Teria sido bastante proveitoso e elucidativo se o caro consulente tivesse complementado a sua pergunta com exemplos concretos. Porém, não o tendo feito, tentaremos responder de uma forma genérica, mas consubstanciada em alguns enquadramentos específicos.
O português é, de facto, uma língua SVO, «ou seja, é uma língua em que a ordem básica de palavras é Sujeito - Verbo - Objeto(s)» (Maria Helena Mira Mateus, Gramática da Língua Portuguesa, 1989, p.157.
As razões pelas quais o referido ordenamento pode sofrer alterações são muitas, complexas e variadas. Em Cunha e Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, pp.162-167), por exemplo, é feito um levantamento exaustivo dos motivos que podem levar à inversão concreta VS (=Verbo+Sujeito), referindo-se, a dada altura, o seguinte - «A inversão VERBO + SUJEITO verifica-se em geral [...] nas orações construídas com verbos do tipo dizer, sugerir, perguntar, responder e sinónimos que arrematam enunciados em DISCURSO DIRETO ou neles se inserem: - Isso não se faz, moço, protestou Fabiano.[...]; - Traz-se-lhe as duas coisas, - disse o Barão aflorando a cabeça no ombro da consorte, de mão na porta escura. [...]».
Deste modo, tem em parte razão o prezado consulente, pois estas são efetivamente orações intercaladas. Porém, tendo em conta que uma oração intercalada (parentética ou explicativa) é, tal como o nome indica, uma oração que ocorre no meio de outra oração (ou proposição), ou no final do período, o tipo de enunciado aqui em análise não esgotará, como será bom de ver, o universo total das orações intercaladas. Neste sentido, veja-se, apenas a título de exemplo, o caso das orações subordinadas adjetivas relativas, que também são orações intercaladas, mas que não obrigam à inversão VS, ex.: «A Joana, que eu tenho em muito boa conta, não seria capaz de cometer tal atrocidade». Como disse, este é apenas um exemplo, mas haverá muitos outros contextos em que tal inversão não será obrigatória.
Reitero, portanto, o que referi no início desta resposta: se o estimado consulente tivesse complementado a sua pergunta com exemplos concretos, teria sido mais fácil percebermos se tem ou não absoluta razão nas suas observações. Se se pretende referir exclusivamente ao tipo de orações salientadas por Lindley Cintra (que aqui transcrevemos), julgo que estará coberto de razão. Contudo, a latitude da sua afirmação é de tal forma genérica, que será muito difícil, sem uma ancoragem mais rigorosa, pelas razões expostas, estarmos em total sintonia com a sua apreciação.