DÚVIDAS

«O problema do Brexit é/são as fronteiras»

Devemos escrever «O problema do Brexit é as fronteiras» ou «O problema do Brexit são as fronteiras"»? Li [aqui] este vosso resultado, mas não fico esclarecida para este exemplo em concreto.

Obrigada!

Resposta

As frases apresentadas são um exemplo de uma estrutura em espelho, do tipo «A é B» é igual a «B é A». Nestas frases copulativas, coloca-se a questão de qual é o constituinte que desempenha a função de sujeito, uma vez que será este que determina a flexão em pessoa e número do verbo copulativo. De acordo com Inês Duarte, é possível identificá-lo através do redobro do sujeito (repetição do sujeito), que só é possível quando o pronome retoma o constituinte com função de sujeito, o que justifica a agramaticalidade de (1) e a correção de (2)1:

(1) «O problema do Brexit é/são as fronteiras. *Ele é as fronteiras»

(2) «O problema do Brexit é/são as fronteiras. Elas são o problema do Brexit.»

O contraste entre as frases (1) e (2) mostra que o sujeito da frase é o constituinte «as fronteiras», pelo que deverá ser este a determinar a pessoa e número da flexão verbal:

(3) «As fronteiras são o problema do Brexit.»

O facto de a frase apresentar uma estrutura invertida corresponde a um caso de frase copulativa invertida2 que se caracteriza pelo facto de o sujeito surgir na posição do predicativo do sujeito e de o predicativo do sujeito surgir na posição do sujeito, sem que isso afete, todavia, o processo de concordância sujeito-verbo.

Para outros casos de concordância das frases copulativas, poderão ser consultadas as respostas apresentadas nas "perguntas relacionadas".

Disponha sempre!

 *Assinala a agramaticalidade da frase.

1. Cf. Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, pp. 544-546.

2. Cf. Idem, ibidem. P. 544.

N. E. (10/04/2019) – Em inglês, a palavra Brexit tem duas pronúncias: "bréksit", maioritária no Reino Unido, e "brégzit", mais frequente, por exemplo, nos Estados Unidos (ouvir o registo do canal Emma Saying, no Youtube, e os do sítio eletrónico da Oxford University Press). Em Portugal, coexistem as duas pronúncias: embora o único dicionário que, até à data, consigna a palavra – o da Porto Editora, disponível na Infopédia – a transcreva com [gz], ficando, portanto, "brégzit", há quem prefira a solução britânica e articule "bréksit" (cf. Helder Guégués, "Brexit: como se pronuncia? – Boa desculpa", Linguagista, 27/07/2017). Sobre as duas pronúncia concorrentes, ler, em inglês, David Shariatmadari, "The real Brexit debate: do you pronounce it Breggsit or Breckit?", The Guardian, 27/07/2017 (tradução: "O verdadeiro debate do Brexit: pronuncia-se Breggsit ou Brecksit?"; este artigo é mencionado por Helder Guégués, op. cit).

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