No primeiro caso, o ponto e vírgula1 justifica-se pela razão que o consulente bem identifica, e,sobretudo, quando tem certa extensão o período que abrange a oração explicativa, adversativa ou copulativa.
Não se trata, portanto, de um uso errado nem inadequado, atendendo a que vem referido num livro recente – Pontuação em Português (Guerra e Paz, 2020), de Marco Neves –, onde se lê:
«O ponto e vírgula é uma alternativa ao ponto e à vírgula (como o próprio nome indica). Tem duas funções. Serve para:
♦ organizar frases de grande dimensão – caso em que substitui o ponto;
♦ organizar enumerações em que os elementos estão em linhas separadas ou já incluem vírgulas lá pelo meio – caso em que substitui a vírgula.»
Sobre a primeira das funções identificadas, o autor citado acrescenta:
«Na frase seguinte, o ponto e vírgula permite organizar a frase de grande dimensões substituindo um ponto: [exemplo] "Uma das maiores dificuldades com que me deparei foi a inexistência de registos escritos; embora existissem algumas notas soltas, não havia um verdadeiro registo de ocorrências."»
Note que, no exemplo acima, o ponto e vírgula marca uma relação assindética, em que se subentende "pois" ou o "porque" explicativo.
No caso da frase de José Neves Henriques, o ponto e vírgula permite sublinhar a função aditiva da conjunção e.
Agradecemos as palavras de apreço do consulente.
1 Antes da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, era frequente escrever ponto-e-vírgula, forma hifenizada que constituía a norma brasileira. Atualmente, grafa-se ponto e vírgula, sem hífen, mesmo no Brasil (cf. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras).