Não existe nenhuma restrição quanto ao emprego da conjunção coordenativa e precedida de ponto-e-vírgula.
No Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa não existe qualquer referência à conjunção; leia-se:
«O ponto-e-vírgula representa maior pausa do que a marcada pela vírgula. Emprega-se:
a) para separar orações coordenadas, quando um tanto longas: "A antiga Grécia, entre os seus maiores poetas, deu prioridade a Homero; a Itália, no esplendor da sua arte literária, a Dante; a Inglaterra, sempre presa no culto do passado, a Shakespeare; Portugal, na glória suprema dos séculos, a Camões."
b) para substituir a vírgula sempre que no período há duas ou mais orações subordinadas dependentes da mesma principal: "É conveniente não esquecer que o estudo dignifica o homem; que devemos sempre assumir a responsabilidade dos nossos actos; que a glória se obtém à custa de muitos sacrifícios."
Observação: Se as proposições coordenadas forem pouco extensas, é preferível o emprego da vírgula.»
A Gramática Normativa da Língua Portuguesa, de Rocha Lima, para além de não impor restrições, dá-nos exemplos que demonstram que o uso do ponto-e-vírgula seguido da conjunção não é incorrecto:
«Emprega-se o ponto-e-vírgula:
1 — Para separar as várias partes distintas de um período, que se equilibram em valor e importância. Exemplos: "O homem transfigura-se. Impertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes, aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu achamboado reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento inesperado de fôrça e agilidade extraordinárias." (Euclides da Cunha).»
Na mesma gramática, relativamente à enumeração, é afirmado que se emprega a vírgula, mantendo a conjunção:
«Para acentuar, numa enumeração, o vulto das coisas enumeradas, é lícito empregar repetidamente a conjunção e. Neste caso, as várias palavras, expressões ou orações são separadas por vírgulas, apesar da presença do e. Exemplos:
"Sêca a terra aparece, e nela é tudo
Informe, e rude, e solitário, e mudo."
(J. A. de Macedo)
"E eu morrendo! e eu morrendo
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo (...)."
(Olavo Bilac)»
Contudo, sublinha-se que, «havendo a conjunção e entre os dois últimos termos, suprime-se a vírgula:
"Sem pressa, sem pesar, sem alegria,
Sem alma, o Tecelão, que cabeceia,
Carda, retorce, estira, asseda, fia,
Doba e entrelaça, na infindável teia."
(Olavo Bilac)»
Esperamos ter esclarecido a dúvida.
Disponha sempre.
Referências:
Bergström, Magnus e Neves Reis, 1990, Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Notícias.
Lima, Rocha, 1962, Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Briguiet.