Não é fácil responder a perguntas deste género em dois ou três parágrafos, uma vez que Saramago não é um autor linear e, para escrever ao estilo de alguém (e sobretudo ao estilo de Saramago!), é necessário ter em conta uma série de factores que são absolutamente idiossincráticos: é complicado reflectir na escrita de outra pessoa a experiência de um autor, a opinião de um autor, as marcas de um autor. Porém, dentro de um contexto de ensino, isso pode até tornar-se interessante, já que é importante dar conta das características formais e de conteúdo dos vários autores abordados.
Saramago é um escritor polémico, quer pela forma como escreve, quer pelos temas que aborda. Ele é, definitivamente, um autor "comprometido socialmente" e esse compromisso reflecte-se na sua escrita, pela crítica social e religiosa, pelos retratos da sociedade portuguesa, actual e mais remota. Por outro lado, é também um autor introspectivo, por vezes demasiado centrado na sua própria experiência, quase fragmentada e sempre dolorosa.
Quanto aos aspectos formais, Saramago é, por excelência, um narrador (conheço-lhe apenas um livro de poemas e uma peça de teatro, que remontam ao início da sua actividade literária). Ele é, portanto, um contador de histórias. Usa parágrafos longos, com poucas ou nenhumas marcas de discurso directo (poucos travessões, por exemplo), com escasso recurso à pontuação (aspecto muito contestado na obra de Saramago...) e, mais curioso e importante ainda, é frequente o narrador interagir com o narratário, comentando o que vai escrevendo. As descrições são extensas, pormenorizadas e por isso muito ricas. Pela sua «pena» é quase possível visualizar o que nos é descrito.
Para terminar é preciso reforçar que, no panorama literário actual, Saramago tem um lugar cimeiro incontestável, não só pelo Nobel da Literatura que lhe foi atribuído, mas sobretudo pelo modo como continua a surpreender-nos na Literatura e na sociedade.