Não concordo de modo algum com a explicação dada pelo consultor José Neves Henriques sobre esta questão. Independentemente de a vírgula estar correcta ou não (e eu acredito que sim, que esteja correcta), ela está lá entre o sujeito e o predicado. A expressão «uma língua que não se defende» é o sujeito de «morre» e não pode ser considerada, portanto, uma expressão isolada entre vírgulas, ou seja, intercalada.
Se fosse uma expressão intercalada, então, ao ser substituída pela sua equivalente «uma língua indefesa», apareceria com a mesma natureza, o que não acontece, já que, obviamente, a frase «Hoje, uma língua indefesa, morre» é incorrecta. A única expressão que, nesta frase, se pode intercalar, é «hoje»: «Uma língua que não se defende, hoje, morre.» É também a única expressão que pode ser retirada da frase sem que a sua ideia essencial se altere.
O facto de se colocar ou não o advérbio «hoje» não modifica a estrutura da frase, que é: complemento circunstancial de tempo (hoje)/sujeito (uma língua que não se defende)/predicado (morre). Como esse advérbio não está colocado segundo a ordem directa das palavras (sujeito, verbo, complementos), vem seguido de vírgula.
Mantém-se, no entanto, a questão que deu origem à polémica, que é a de saber por que razão existe uma vírgula entre «Uma língua que não se defende» e «morre». Para separar duas formas verbais, ou seja, duas orações? Aqui fica a questão, baseando-me, aliás, numa afirmação do texto do mesmo consultor, por quem tenho toda a consideração...