Segundo a Gramática de Língua Portuguesa de Maria Helena Mira Mateus et alli (2003), os modificadores restritivos e apositivos inserem-se nos modificadores nominais, do que se infere que sejam modificadores de nome e não de verbo. De qualquer modo, isso não invalida que tais modificadores – para além de adjectivos, de expressões qualitativas e de apostos – não sejam orações, que contêm necessariamente, um verbo. Mas, neste caso, é a própria oração (relativa restritiva ou relativa apositiva) que constitui o modificador da expressão nominal, e o verbo não passa de um elemento dessa oração.
Se atentarmos nas definições para cada um desses modificadores, compreendemos o seu valor como constituintes da categoria SD (sintagma determinante), categoria esta que se inclui – tal como a categoria SQ (sintagma quantificador) – na estrutura funcional do SN (sintagma nominal). Observemos, então, o que nos diz a referida gramática:
«Para além dos elementos de quantificação, dos determinantes e dos complementos, a categoria SD pode ainda conter constituintes com forma e valores semânticos muito diversificados mas que têm em comum serem modificadores restritivos ou apositivos.
Os modificadores restritivos limitam o domínio de referência da expressão nominal; categorialmente podem ser SPs (os adjuntos a SN), adjectivais e oracionais.» (pp. 365-366)
São exemplo das primeiras categorias destes modificadores: «o porteiro do hotel; aquele artista de circo; um artista plástico».
As orações relativas restritivas ou determinativas incluem-se também neste tipo de modificadores nominais, uma vez que «contribuem para a construção do valor referencial da expressão nominal», razão pela qual «não podem ser separadas do antecedente por pausas (na escrita por vírgulas, ou traços):
O chapéu que estava no armário desapareceu.
O homem de que tu falaste está a chorar.
Compraram uma toalha com que cobriram a mesa.» (p. 367)
Por sua vez, «os modificadores apositivos constituem um comentário avaliativo do locutor sobre uma entidade denotada pela expressão nominal; categorialmente podem ser frásicos (as relativas apositivas), nominais ou adjectivais (os apostos, na terminologia tradicional)» (p. 366)
Distintas das relativas restritivas (que se inserem nos modificadores restritivos), as orações relativas apositivas servem «de comentário do locutor relativamente à entidade denotada pela expressão nominal antecedente», razão pela qual estão relacionadas com os apostos:
«O António, que faz anos amanhã, regressou do estrangeiro.
Lisboa, que é a capital de Portugal, é uma cidade com uma luz especial.
Os teus primos, que vivem na Califórnia, chegam hoje.
Eu, que tanto me esforcei, cheguei em último lugar.» (p. 368)
Por sua vez, os apostos, que podem ser adjectivais ou nominais, como expressões parentéticas (destacadas por pausas no interior do SD) também se inserem nos modificadores apositivos.
Ex.: «Adriano, o imperador de Roma, era um homem só.
O guarda, aquele cretino, atirou dois tiros.
O João, todo contente, partiu para os EUA.» (p. 369)
Apesar de analisado este ponto, considero importante debruçarmo-nos também sobre a questão colocada relativamente à hipótese da existência de modificadores de verbo. Para isso, teremos de focalizar a nossa atenção para o SV (sintagma verbal) e a sua estrutura interna, mais propriamente, os complementos de verbo.
Revendo os conceitos, não podemos deixar de nos lembrar que «a estrutura do SV está estreitamente ligada ao número de argumentos seleccionado pelo V», argumentos esses cuja presença, natureza categorial e temática se relaciona «com o tipo de verbo e com o tipo de relação de regência e dependência lexical estabelecida». (p. 409)
É também do conhecimento comum que aos argumentos «a tradição gramatical consagrou a etiqueta de complemento(s)». Ora, «do ponto de vista categorial, os complementos dos Vs podem ser sintagmas nominais (SN), sintagmas preposicionais (SP), um número reduzido de sintagmas adverbiais (SADV) e frases».
Recordar estes conceitos, para o estudo deste caso, torna-se relevante pela especificidade dos sintagmas adverbiais. De facto, não podemos esquecer-nos de que o advérbio ou locução adverbial, como núcleo do sintagma adverbial, «é uma classe ou categoria de palavras bastante heterogénea e complexa, cuja designação repousa na ideia, ilusória, de que modifica apenas verbos e de que vem geralmente junto deles; na verdade, os advérbios modificam vários tipos constituintes e podem ocupar posições distintas.» (Idem, p. 417)
Perante estas características do advérbio, poderemos depreender que o sintagma adverbial possa ser também um modificador de verbo. Esta ideia não é negada pelos linguistas da gramática citada, chegando estes, mesmo, a prever situações em que tal aconteça, pois são eles que nos alertam para alguns destes casos, que foram fruto da sua investigação: «As propriedades da graduação e da transitividade estão na base de uma estrutura sintáctica de alguns sintagmas adverbiais muito próximas da dos sintagmas adjectivais e dos sintagmas nominais. Assim, quando os advérbios são transitivos, podem projectar complementos […]; quando os advérbios são graduáveis, podem surgir no interior do SADV especificadores ou modificadores, que são também advérbios de quantidade, como em […] “A Maria come muito bem”» (p. 420).
É ainda de assinalar a observação de que os advérbios de quantidade – em que se incluem «os que exprimem o grau (assaz, bastante, bem, demasiado, mais, menos, muito, pouco, quase, tanto, tão) – […] de um modo geral ocupam a posição de especificador do SA e do SADV, embora modifiquem também verbos, sendo então parte do SV», de que é exemplo a seguinte frase:
«Ele come/corre/lê muito.» (p. 421)
No entanto, apesar de nos termos dado conta de que, por vezes, o sintagma adverbial possa ser um modificador de verbo, apercebemo-nos também de que tal situação não é muito comum.
Concluímos, com isto, que a língua nos surpreende com as suas vertentes…
Mas, de facto, os modificadores restritivos e apositivos são nominais e, consequentemente, referem-se a nomes.