1 – Os complementos verdadeiramente circunstanciais, ou seja, aqueles que não são essenciais, têm na nova terminologia a designação de modificadores e podem ser
a) preposicionais:
Vou a Lisboa de barco.
b) adverbiais:
Vieste depressa.
c) frásicos:
A viagem que fiz nas férias foi muito interessante.
A designação «complemento preposicional circunstancial de companhia» não é muito canónica, mesmo à luz da “velha nomenclatura”. Isto porque não costuma dizer-se complemento preposicionado circunstancial, mas tão-somente complemento circunstancial.
Na nova terminologia (NT) continua a atribuir-se valores semânticos aos complementos e aos modificadores. Procura-se é fazer formulações que permitam distinguir, o melhor possível e quando possível, a sintaxe da semântica.
Assim, na frase «Vou a Lisboa de barco», temos um complemento preposicionado «a Lisboa», que veicula o valor de destino ou ponto de chegada, e um modificador preposicional «de barco», que transmite a ideia de meio.
O que se procura fazer com esta distinção? Assinalar que meio, ou companhia, é algo que pertence à semântica e não à sintaxe.
2 – Há, em algumas áreas dos estudos linguísticos, alguma resistência face à utilização da designação de predicado verbal ou predicado nominal. Sobretudo porque outros conceitos se associam a predicado, tais como predicação ou predicador.
Dizem Inês Duarte e Ana Maria Brito, na Gramática da Língua Portuguesa, Mira Mateus e outras, 2003, 5.ª edição:
«… em todas as frases há, de um modo ou de outro, relações de predicação.
Predicar é, pois, atribuir propriedades ou estabelecer relações entre entidades. Assim, tanto predicamos quando atribuímos a propriedade de “ser inteligente” a um indivíduo de nome “João” (O João é inteligente) como quando dizemos O João escreveu um artigo, caso em que estabelecemos uma relação entre escrever e um artigo, ou entre o João e um artigo através de escrever.» p. 182
De uma forma muito simplista defende-se que as predicações ou relações entre as palavras de uma frase advêm das características lexicais das palavras relacionadas. Por outro lado, a expressão «predicado nominal» é considerada pouco feliz dado que, em muitos casos, o complemento de um verbo copulativo não é um nome mas, sim, um adjectivo. Além disso, contrariamente ao que se fazia no tempo em que aprendi sintaxe, o que hoje se recomenda quando se fala de predicado é incluir nele os complementos do verbo. Assim, em «O João é inteligente», o predicado é «é inteligente», e em «O João escreveu um livro», o predicado é «escreveu um livro». A grande diferença está no facto de os verbos copulativos terem um complemento que está sujeito a regras de concordância, na maioria dos casos.
3 – O termo oração não é referido na NT. Preferiu-se utilizar apenas o conceito frase. No entanto, oração enquanto termo que «designa frase simples, finitas ou não finitas» – gramática já referida, p. 182, nota (3) – está de tal forma consagrada, que imagino que vá manter-se. O conceito de oração ou frase absoluta não aparece na NT. Em vez disso, fala-se de frases simples. Aliás, não é só na NT. Na gramática que tenho vindo a citar, p. 92, fala-se de período simples como sendo aquele que tem uma única frase simples.
Gostaria de alertar para o facto de ter tentado sistematizar, tanto quanto me é possível, o que pertence, ou não, à NT. Porém, a par da NT, e para além dela, há o saber instalado que não se muda por decreto, e a nomenclatura tradicional continuará, estou certa, a ser um ponto de referência a que muitos de nós vão continuar a recorrer por muito tempo. Se, no entanto, temos responsabilidades no âmbito do ensino e da aprendizagem da língua, todo o esforço que façamos no sentido de utilizar a NT será de louvar. Mas esse esforço não poderá, sob pena de se tornar estéril, reduzir-se à substituição de um termo por outro. Há que fazer um esforço acrescido, no sentido de perceber a mudança e as razões que a ditaram.