O valor aspetual de vir a + infinitivo é geralmente classificado como resultativo, enquanto a estar a + infinitivo se associa geralmente o valor durativo.
Relativamente à diferença nos usos europeu e brasileiro, nota-se de facto que em textos brasileiros é rara ou nula a ocorrência da construção vir a + infinitivo com o auxiliar no pretérito perfeito composto (ver Corpus do Português, de Mark Davies). De acordo com as fontes disponíveis, não é aqui possível explicar este contraste; o mais que se consegue é constatar o que foi dito na resposta em causa: em textos do século XX, «ter vindo a» é característico dos textos do português europeu.
Já quanto a ter estado a + infinitivo é de esperar que esta forma da construção, com o auxiliar no pretérito perfeito composto, só ocorra no padrão linguístico de Portugal, visto que no Brasil a perífrase se construiria com gerúndio («ter estado fazendo», por exemplo). E com efeito assim é, porque, consultando novamente o Corpus do Português, apenas uma ocorrência abona «ter estado a» + infinitivo numa frase de Erico Veríssimo, que talvez tenha recorrido a esta construção por razões estilísticas, para evitar a proximidade entre gerúndios:
(1) «Toríbio entrou naquele momento. Tinha estado a esconder a cavalhada. – Está chegando a hora... – disse, pegando a cuia que o dono da casa lhe oferecia. Um minuto depois, saíram» (Erico Veríssimo, O Tempo e o Vento, parte 2, tomo 3, 1961).
Em todo o caso, é de assinalar que na secção histórica do Corpus do Português são raras as ocorrências dos tempos compostos na perífrase de estar + gerúndio.
Vir a + infinitivo é uma perífrase verbal que se encontra descrita por Celso Cunha e Lindley Cintra, que a consideram construção empregada «para expressar o resultado final da ação» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, Edições João Sá da Costa, 1995, p. 395), abonando-a com o seguintes exemplos: «Vim a saber dessas coisas muito tarde», «Veio a dar com o burros na água».
Paul Teyssier não se afasta desta interpretação, afirmando que esta construção «insiste no termo da ação» (Manual de Língua Portuguesa. Portugal-Brasil, Coimbra Editora, 1990, p. 315).
Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, 2003, p. 233) converge com os autores antes citados, quando inclui «vir a escrever» entre os auxiliares que exprimem resultado, mas acrescenta ainda (mantém-se a ortografia do original consultado):
«Vir a + infinitivo de certos tem quase o mesmo sentido do verbo principal empregado sozinho: Isto vem a traduzir a mesma idéia (= isto por fim traduz a mesma idéia). Vir a ser pode ainda ser sinônimo de tornar-se: Ele veio a ser famoso.»
Num estudo linguístico dedicado aos verbos auxiliares aspetuais, Henrique Barroso integra a perífrase de vir a + infinitivo num conjunto de auxiliares que constituem uma categoria aspetual que ele denomina de «categoria aspetual da colocação», a qual «assinala a relação de uma acção com outra (ou outras) acção(ões) do contexto» (O Aspecto Verbal Perifrástico em Português Contemporâneo. Visão Funcional Sincrónica, Porto Editora, 1994, p. 137). O caso concreto de vir a + infinitivo define, com chegar a + infinitivo, uma subcategoria, «a disposição resultante», que «indica que a acção verbal se apresenta como um resultado relativamente às acções não 'consideradas' anteriormente» (ibidem, p. 145).
Em vir a + infinitivo, a preposição terá valor télico – Gramática do Português (Fundação calouste Gulbenkian, 2013-2020, p. 1275). É uma construção que só admite o infinitivo e exclui o gerúndio, mesmo nas variedades brasileiras (ibidem, pp. 1274/1275). Parece alinhar assim, com verbos como começar, passar, chegar, voltar e tornar que selecionam a télico, ao contrário de estar, ficar, continuar e andar, que selecionam outro tipo semântico de a, o de valor aspetual durativo, e formando uma construção de infinitivo preposicionado (ibidem, p. 1275).