Os constituintes «alguns dias» e «ser benzida» desempenham a função de sujeito.
O verbo faltar é um verbo pessoal, ou seja, constrói-se com sujeito, que, no caso das frases apresentadas, está expresso. Para além disso, é um verbo transitivo indireto, o que significa que não se constrói com complemento direto, mas sim com complemento indireto. Assim, na frase (1), o sujeito é «alguns dias», pelo que o verbo deve concordar com o sujeito flexionando na 3.ª pessoa do plural:
(1) «Faltavam alguns dias para a Ana casar.»
Na segunda frase, o sujeito é o verbo na forma passiva «ser benzida», pelo que o verbo deve flexionar na 3.ª pessoa do singular:
(2) «Só lhe falta ser benzida para que a ponham num altar.
No que respeita à classificação das orações não finitas que surgem em cada frase, relativamente à segunda frase apresentada pelo consulente, verificamos que se estabelece uma relação de finalidade entre a oração subordinante e a subordinada («ser benzida» terá como fim a colocação no altar), pelo que a oração «para que a ponham num altar» é subordinada adverbial final.
No caso da primeira frase, estamos perante uma oração reduzida de infinitivo1, introduzida pela preposição para. Estas orações são equivalentes a orações introduzidas pela locução conjuncional com o mesmo valor (uma oração desdobrada). Neste caso, a frase apresentada é equivalente a (5):
(5) «Faltavam alguns dias para que a Ana casasse.»
Bechara apresenta como exemplo de oração subordinada adverbial final a seguinte frase:
(5) «Falta pouco para que isto suceda.»
que ilustra uma finalidade não de um facto («de re»), mas do que é dito ou pensado («de dicto»). Julgo que, na situação em análise, estamos perante um caso similar, pelo que considero que a oração «para a Ana casar» é uma oração adverbial final (reduzida de infinitivo).
Em nome do Ciberdúvidas, agradeço as estimulantes palavras que nos endereça.
Disponha sempre!
*indica a agramaticalidade da frase.
1. Segue-se o conceito de Bechara que considera oração reduzida aquela que é constituída por uma forma nominal do verbo, sendo dotada de autonomia sintática e passível de ser substituída por uma oração desdobrada. (cf. Moderna Gramática Portuguesa. Ed. Nova Fronteira, p. 422)