DÚVIDAS

O conetor para

Sendo para uma preposição, como é posível que o DT (Dicionário Terminológico) para consulta em linha, em B.3.2.1. (conjunções subordinativas), apresente como exemplo de uma conjunção subordinativa (adverbial) final para no exemplo «O Zé ficou em casa, [para] ver o jogo»?

Creio que se confunde a oração subordinada substantiva completiva infinitiva (que pode ser introduzida por para + v. no infinitivo, com valor final) com a oração subordinada adverbial final, que só pode ser introduzida por uma das locuções conjuncionais subordinativas adverbiais finais («para que»/«a fim de que» + v. no modo conjuntivo). Não é assim?

Resposta

O Dicionário Terminológico e a Gramática da Língua Portuguesa (Mateus et al., 2003) colocam para no grupo dos conetores. Neste exemplo, a oração «ver o jogo» comporta-se como propósito/finalidade da antecedente «O Zé ficou em casa», sendo para a unidade que estabelece o sentido.

«Para é uma preposição reanalisada como complementador em construções de complementação verbal, como em "Disse-lhe para vir jantar"» (Mateus et al., 2003).

É possível testar-se a completiva: «Disse-lho.» Mas não é possível, no nosso exemplo, *«O Zé ficou-o».

«Ora, nas orações finais, como em "Fugiste para que ele não te visse" e "Fugiste para ele não te ver", para não é equiparável ao complementador; logo, nas orações finais, estamos na presença da preposição a introduzir um constituinte frásico, que ou é iniciado pelo complementador que, sendo a oração finita, ou não comporta tal complementador, surgindo então uma oração infinitiva» (Mateus et al., 2003).

O mesmo valor semântico entre uma locução conjuncional substantiva adverbial final («para que»/«a fim de que») e para (com o seu significado no exemplo) permite a utilização da designação conjunção subordinativa final.

«O Zé ficou em casa, para que/a fim de que visse o jogo.»

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