Existe, com efeito, alguma especialização nas locuções conjuncionais usadas para exprimir o valor de concessão.
A oração concessiva apresenta uma situação que poderia funcionar como um obstáculo à realização da situação descrita na oração subordinante, mas que, no entanto, não tem força para que tal aconteça. É o que se verifica na frase (1), onde a oração subordinada descreve uma situação – «ter imenso trabalho» - que levaria a esperar que o João não fosse passear, o que, não obstante, ocorre.
(1) «Ainda que tenha imenso trabalho, o João vai passear.»
Podemos distinguir dois tipos de concessivas: as factuais e as não factuais. As primeiras apresentam a situação da oração subordinada como real, enquanto nas segundas esta situação é descrita como hipotética ou falsa. Assim, a frase (1) descreve a situação «ter imenso trabalho» como real ou factual, pelo que se trata de uma concessiva factual. Já na frase (2) descreve-se uma situação hipotética e na (3) uma situação contrafactual, pelo que estamos perante concessivas não factuais:
(2) «Mesmo que tenha imenso trabalho, o João irá à praia.»
(3) «Mesmo que tivesse tido imenso trabalho, o João teria ido à praia.»
Repare-se ainda que em (2) a forma como se descreve a hipótese dá a entender que a situação poderá ou não ter lugar, ou seja, o João irá à praia independentemente de se verificar a situação de «ter imenso trabalho». Já em (3), a situação descrita na subordinada não ocorreu.
As orações factuais podem ser introduzidas por embora, «ainda que» ou «se bem que» e selecionam o modo conjuntivo na sua oração. As orações não factuais podem ser introduzidas por «ainda que» ou «mesmo que», combinando-se também com o modo conjuntivo1.
Estes são usos preferenciais, sendo possível assinalar exceções ou situações de uso específicas, sobretudo quando o valor da oração é ambíguo entre o factual e o não factual.
Disponha sempre!
1. Para mais informações, cf. Lobo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 2015 – 2020.