A forma cê, redução de você, não é impossível em Portugal, mas não parece ter aqui uso estável nem sistemático como no Brasil.
Pode produzir-se ocasionalmente, por exemplo, numa frase exclamativa, como é o caso da ocorrência no filme citado, em que o ator (Ribeirinho) concentra toda a força da elocução na sequência «tá maluco» (em que tá é a forma popular de está), com o resultado de você ficar reduzido à sílaba tónica -cê.
É igualmente de notar que a descrição linguística não tem reconhecido cê como uma variante autónoma de uso consistente no português de Portugal. Com efeito, enquanto a forma cê tem presença em alguns dicionários brasileiros1 como variante de você, na lexicografia portuguesa2 apenas está ela consignada como o nome da letra assim chamada.
1 Ver Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa s. v. 2cê (trata-se de homónimo da entrada 1cê, nome da letra C) e Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. A versão eletrónica do dicionário de Caldas Aulete também acolhe cê como variante reduzida de você.
2 Foram consultados o Novo Dicionário da Língua Portuguesa (1913), de Cândido de Figueiredo (versão eletrónica com o título Dicionário Aberto), o Grande Dicionário da Língua Portuguesa (1989), de José Pedro Machado, o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, o Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa e o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.