Na frase apresentada, o pronome lhe desempenha a função sintática de complemento indireto/objeto indireto.
Já a relação entre as duas orações que constituem a frase exige uma análise mais detalhada.
Assim, é comum a apresentação de frases idênticas à que se apresenta em (1):
(1) «Quem tudo quer tudo perde.»
Esta frase caracteriza-se por ter um sujeito oracional que corresponde à oração subordinada substantiva relativa «Quem tudo quer». A oração «tudo perde» é a oração subordinante composta por verbo e complemento direto / objeto direto («tudo»).
No caso da frase apresentada pelo consulente (a qual corresponde a um provérbio de uso comum), embora esta apresente semelhanças com a frase (1), a oração subordinada substantiva relativa não é o sujeito do verbo parece. Na verdade, o sujeito deste verbo está elidido, mas semanticamente é possível identificar que se trata do termo feio:
(2) «O feio parece-lhe bonito.»
Assim sendo, a oração relativa poderá ser interpretada de duas formas, que apresentamos aqui como hipóteses de estudo:
(i) como integrando uma estrutura elíptica, da qual o predicado do qual esta oração é sujeito está omisso (poderíamos aventar a hipótese de se tratar de um anacoluto);
(ii) como correspondendo a uma situação de redobro do pronome (lhe), numa construção que corresponderia a (3)
(3) «O feio parece-lhe bonito, a quem feio ama.»
Note-se, no entanto, que à frase original falta a preposição a, que introduz o segmento com função de redobro do pronome. Este facto poderia, eventualmente, resultar de alguma erosão associada à cristalização do provérbio.
Disponha sempre!