Na verdade, o anglicismo vintage1 pronuncia-se aproximadamente como "víntidje", ou seja, com acento tónico na sílaba inicial e com o sufixo -age a soar como "idje" (transcrição fonética [ˈvɪntɪdʒ]; ouvir também aqui e aqui).2
Trata-se de uma palavra inglesa de origem francesa, como muitas que entraram no inglês na sequência da conquista normanda, a partir de 1066. No Online Etymology Dictionary de Douglas Harper pode ler-se a seguinte informação etimológica (tradução livre3):
«vintage nome começo do século XV, 'colheita das uvas, colheita de vinho de uma vinha', do anglo-francês vintage (meados do século XIV), do francês antigo vendage, vendenge 'vindima, colheita de uma vinha', do latim vindemia 'junção de uvas, colheita de uvas', de uma combinação de vinum 'vinho' + radical de demere 'tirar, separar' (de de- 'de, 'de junto de' + emere 'tomar. O sentido passou a 'idade ou ano de um vinho particular' (1746), depois a um sentido genérico adjetival de 'pertencente a um tempo antigo (1883). Usado com referênia a automóveis desde 1928.»
Em Portugal, o anglicismo vintage já era conhecido no contexto do vinho, em especial do vinho do Porto, entendendo-se que este é vintage, quando é de qualidade excecional e resulta de uma só colheita (cf. Dicionário Houaiss). Acompanhando a evolução semântica da palavra no contexto de língua inglesa, também vintage em português se aplica agora a tudo o que seja uma seleção do melhor que, em qualquer área, já se produziu.
1 (Atualização de 17/4/2017, às 11h00) – Trata-se de um estrangeirismo ainda não adaptado ao português, pelo que se aconselha a sua escrita em itálico (cf. vintage no Dicionário Houaiss), ou, na impossibilidade de uso deste tipo de imprensa, entre aspas. Refira-se, contudo, que alguns dicionários – p. ex. o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e o Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora (já não assim o dicionário em linha correspondente) – não realçam visualmente os estrangeirismos, aplicando-lhes o mesmo tratamento gráfico que aos itens vernáculos.
2 O Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto da Editora, o dicionário em linha da mesma editora, disponível na Infopédia, e o dicionário da Academias das Ciências de Lisboa atribuem ao anglicismo a transcrição [ˈvĩtɐdʒ(ə)]. Trata-se de uma pronúncia que parece ter aceitação em Portugal, embora inclua o segmento africado [dʒ], que geralmente é reduzido à consoante africada pré-palatal [ʒ] (= o j de janela). Esta forma está, assim, a meio caminho entre a pronúncia inglesa exata e uma interpretação da letra a de vintage de acordo com os padrões de correspondência entre grafia e fonia que são característicos do português de Portugal. Não sendo de condenar esta pronúncia, convém assinalar que a que mais se aproxima do inglês, "víntidje", tem a transcrição fonética [ˈvɪntɪdʒ] na 1.ª edição do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, de 2001, pelo que, não requerendo esforço aos falantes de português, constitui forma igualmente legítima.
3 Segue-se o original inglês: «vintage n. early 15c., "harvest of grapes, yield of wine from a vineyard," from Anglo-French vintage (mid-14c.), from Old French vendage, vendenge "vine-harvest, yield from a vineyard," from Latin vindemia "a gathering of grapes, yield of grapes," from comb. form of vinum "wine" [...] + stem of demere "take off" (from de- "from, away from" + emere "to take;" [...]). Sense shifted to "age or year of a particular wine" (1746), then to a general adjectival sense of "being of an earlier time" (1883). Used of cars since 1928.»
N.E. – Questionando a indicação fonética dos dicionários citados na nota 2, leia-se na rubrica Controvérsias a diferente perspetiva da professora Maria Regina Rocha, no texto intitulado Sobre a pronúncia do vocábulo vintage.