A palavra vintage tem origem anglo-francesa e é usada pelos enólogos para designar um ano de boa colheita de uvas, recebendo o vinho do Porto, por exemplo, essa designação quando a colheita é de reconhecida qualidade.
Suponho que foi nesse âmbito que a palavra entrou no português, reservada a um grupo restrito de consumidores, logo a uma elite social de apreciadores de um produto nada popular. Os rótulos das garrafas ostentavam essa menção, em letras pequeninas, cujo significado estaria interdito à maioria.
Nos últimos tempos, democratizou-se o seu uso, generalizou-se e passou a ouvir-se um pouco por todo o lado, com pronúncias distintas, conforme o falante seja mais anglófilo ou mais francófilo. Hoje, tudo é vintage. As roupas são vintage, não são roupas antigas, clássicas, de décadas anteriores; os automóveis são vintage, não são automóveis antigos, clássicos, de décadas anteriores; os móveis são vintage, não são móveis antigos, clássicos, de décadas anteriores.
Deixámos de usar velharias, mais popular, ou até antiguidades, mais nobre, para adotar o estrangeirismo que sempre torna as frases mais cosmopolitas, elegantes, pelo visto.
Vem isto a propósito de mais uma loja, entre muitas, que escolheu o nome de Cantinho do Vintage (na ilustração) e que a página do Facebook NIT1 publicitou há alguns dias. Questão: é mesmo mais apelativo este nome, torna aquilo que vende mais interessante, tem os turistas como clientes-alvo, ou é apenas mais um atropelo ao vernáculo e um desprezo pelos indígenas?
1 Já agora, NIT é o acrónimo de New in Town (novo na cidade, isto é, as novidades que há na cidade) e, sim, diz respeito a Lisboa…