Não consideramos que exista um recurso expressivo na frase apresentada. Poderemos, sim, considerar que as frases estão ao serviço de diferentes intenções do falante.
Assim, por um lado, poderemos focalizar a nossa atenção no contraste ativa/passiva entre as frases (1) e (2), que permite focalizar ou o agente da ação, na frase (1), ou o paciente da ação, na frase (2):
(1) «O João está a cozinhar o frango.» (O João é o agente de cozinhar)
(2) «O frango está a ser cozinhado pelo João.» (O frango é o paciente, que sofre a ação de cozinhar)
Por outro lado, frases como a apresentada pelo consulente parecem ser próximas das construções de alternância causativa-incoativa1. Este verbos caracterizam-se por, na forma causativa, focalizar o sujeito que pratica ação do verbo, que é o "causador" da situação descrita, e o complemento direto que representa o paciente dessa ação. O verbo cozinhar na frase apresentada em (3) surge na forma causativa, sendo «O João» o agente e «o frango» o paciente:
(3) «O João está a cozinhar o frango.»
Os verbos surgem na forma incoativa quando integram uma construção intransitiva que tem apenas sujeito (que corresponde ao paciente) e não admite complementos introduzidos por por. Em (4), o verbo cozinhar surge na forma incoativa, tendo «o frango» por sujeito, que corresponde ao elemento que sofre a ação do verbo:
(4) «O frango está a cozinhar.»
Neste caso, coloca-se um enfoque na mudança de estado sofrida pelo paciente da ação.
Disponha sempre!
1. Para maior aprofundamento, cf. Gonçalves e Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1208-1213 e Duarte in Ibidem, pp. 450-453. Ver também os textos relacionados.