Futebol, futebol e, praticamente, só futebol – é o que se tem visto e ouvido no audiovisual português, com o Mundial de Futebol no Catar. São as transmissões a rodos dos jogos, o sem-número de debates e comentários dos "especialistas", mais os diretos e os diferidos in loco, como que evaporando dos noticiários o que antes era também cobertura (quase) monotemática. Foi o tempo de todos os holofotes, primeiro, para a covid-19; e, depois, para a guerra na Ucrânia.
Não bastasse já este verdadeiro sufoco informativo1, lá veio ao de cima, de novo, o pior futebolês. Como «correr atrás do prejuízo» e as declarações "bombásticas". Ainda por cima, roçando o popularucho mais básico. Que o jogador substituído estava com cara de «chateado» e que um outro «refilou», levando uma «descasca de todo o tamanho». E o que será ter um «talento absurdo» e fazer «defesas monstruosas»? Fora os tropeções habituais no "Rònaldo" e no [João] "Féliks", mais as «flash-interviews» e as outras entrevistas mais alargadas, transformadas, todas elas, em anódinos tempos de antena sem quaisquer perguntas "fora da caixa" – ao contrário do que se assistiu com outras seleções europeias.
E, claro, o «puxa-saco» patrioteiro, como chamam os brasileiros aos relatos gritados de cachecol ao pescoço, sem qualquer distanciamento critico quando joga Portugal.
1 O quádruplo da cobertura noticiosa de qualquer outro acontecimento extrafutebol, como se viu no megatratamento conferido ao falecimento do ex-futebolista Fernando Gomes, e no praticamente zero que as televisões deram ao desaparecimento do mais marcante produtor e distribuidor de filmes nos últimos 50 anos em Portugal, António Cunha Telles, ele que foi também o realizador do emblemático filme O Cerco, ainda no tempo da Censura e da PIDE.