A 21 de dezembro de 2024, o jogador de 17 anos do Futebol Clube do Porto, e pela primeira vez titular, Rodrigo Mora, faz um golo e uma assistência para golo, tornando-se o homem do jogo. Os títulos dos jornais desportivos portugueses do dia seguinte eram:
«Dragão MORA no topo» (O Jogo);
«Dragão já MORA no topo"»(A Bola);
«Juros de MORA» (Record).
Na coluna "Veludo Azul", o título da crónica de Miguel Guedes era:
«Juros de MORA»(O Jogo)
No interior do Record, duas notícias têm por títulos:
«No Dragão já MORA uma nova estrela»
«Sentado no trono onde MORA o ouro»
Estes títulos, que em parte se repetem, de jornal para jornal, jogam com a homografia entre o apelido do jogador, Mora, o verbo morar e a expressão financeira «juros de mora».
Como se percebe, os trocadilhos estão presentes nos títulos dos três jornais desportivos que se publicam diariamente em Portugal: Record, A Bola, O Jogo.
Estes jogos de palavras inserem-se numa longa – de décadas – tradição de construção de títulos deste tipo de publicações. Títulos como estes fogem às regras da construção de títulos dos jornais generalistas, embora aqui existam algumas variações, com os tabloides a utilizarem com mais frequência metáforas e a aproximarem-se mais deste estilo. Os generalistas procuram, por norma, ser claros, concisos e específicos, e maximamente responder às cinco perguntas clássicas do jornalismo, os famosos 5W e 1H (Who, What, When, Where, Why, e How), ou seja, «Quem? O quê?, Quando?, Onde?, Porquê?, Como?».
Sobre este jogo, um jornal generalista provavelmente titularia:
«Rodrigo Mora marca um golo e faz uma assistência»
«Rodrigo Mora resolve o jogo para o FC Porto»
Ou algo assim. Ainda que, também nos generalistas, as secções desportivas tendam a adotar este tipo de títulos.
Estes jogos de palavras atingem, neste momento, uma espécie de paroxismo do surrealismo linguístico nos programas desportivos da CMTV, em que, na régie, alguém vai acompanhando o programa e fazendo destaques, colocando em rodapé os mais criativos ou mirabolantes títulos, formados a partir de combinações de palavras mais ou menos plausíveis, mais ou menos bem conseguidas.
Confesso que me agradam sobremaneira estes trocadilhos, sobretudo na imprensa diária, e muitas vezes dou comigo, de véspera, a adivinhar alguns. Este caso chamou-me a atenção não pela sua especial originalidade mas por, ao ter feito o pleno dos três diários de desporto publicados em Portugal, comprovar que este tipo de títulos constitui uma espécie de escola no jornalismo desportivo em Portugal.