O futebol em Portugal está cada vez mais sério e chato e longe vai o tempo em que só as pessoas menos educadas se zangavam por paixões clubísticas. Agora, a contratação de um jogador, um fora-de-jogo mal assinalado, uma declaração de um dirigente são pretexto para discussões intermináveis, artigos filosóficos, corte de relações, desafios para duelos e por aí fora.
Talvez devido a esta enorme e maçadora carga dramática que atinge «o mundo da bola», o locutor da RTP, na transmissão do Porto-Sporting, dizia que certo jogador se tinha apoiado no «cachaço» do guarda-redes da equipa de Lisboa, um termo bem mais adequado às coisas da tauromaquia. «Cachaço» é português antigo e correcto, ninguém duvida e, segundo o Dicionário da Porto Editora, significa «parte posterior do pescoço». Mas o significado certo, diz o bom-senso e impôs há muito o uso, corresponde mais aos significantes de quatro patas do que aos de duas. «Tinha um cachaço alentado, vermelhusco, com um não-sei-quê de bovino na lombada e na inclinação [Maria Archer, "Fauno Sovina", cit. dic. Aurélio]»...