« (...) O Acordo Ortográfico ao mesmo tempo que institui uma norma ortográfica única, abrangendo todos os países que o subscreveram, ele pauta-se pela manutenção das especificidades fonológicas de cada um desses países. (...)»
Quando foi criado o Instituto Internacional da Língua Portuguesa – o IILP –, em 1989, e posteriormente a CPLP – que o veio a integrar – , os países de língua portuguesa reconheceram implicitamente que juntos são mais fortes do que cada um por si e que a língua portuguesa é um elo de união demasiado importante para ser negligenciado. É como se os nossos países dissessem que é muito mais forte aquilo que os une, ou seja, a língua comum, do que aquilo que os pode separar, como por exemplo as cicatrizes do passado colonial.
Historicamente, desde a independência do Brasil, em 1822, a língua adquiriu um caráter bicêntrico, ou seja, passou a ter não um centro difusor da norma linguística, como até então fora Lisboa, mas dois centros, Lisboa e o Rio de Janeiro. Com as independências dos demais países de língua portuguesa, o que se espera é que venham a nascer novos centro difusores de norma, ou seja, que também estes jovens países venham a assumir a variedade do português neles falado como um traço fundamental da sua identidade, tornando o português uma língua efetivamente pluricêntrica.
O caminho que nos compete trilhar é, assim, o de tomar as medidas possíveis para, por um lado, garantir o fortalecimento da unidade da língua e, por outro, não deixar de respeitar as diferentes variedades dessa mesma língua que caracterizam cada um dos países que a adotaram.
O Acordo Ortográfico não contraria em nada esse percurso; bem pelo contrário. Ao mesmo tempo que institui uma norma ortográfica única, abrangendo todos os países que o subscreveram, ele pauta-se pela manutenção das especificidades fonológicas de cada um desses países, constituindo, assim, a prova maior de que essa é a direção certa para a manutenção desta unidade na diversidade. Não admira, portanto, que a CPLP tenha adotado como seu este acordo, assinado ainda antes da sua criação em 1996, e que, através do IILP, venha criando condições para a sua aplicação em todo o espaço da língua portuguesa.
Claro que, para que o pluricentrismo se torne efetivamente uma realidade, é necessário que todos os países de língua portuguesa passem das palavras aos atos e comecem a adotar as medidas necessárias para a consolidação e posterior difusão das suas respetivas normas nacionais.
(Áudio disponível aqui)
Apontamento da autora no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 21 de junho de 2020.