1. Na Europa, as preocupações com a guerra na Ucrânia, desencadeada em 27 de fevereiro de 2022, são agravadas pelo desaparecimento do líder da oposição russa Alexei Navalny*. O ministro português do Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, alertando para a degradação da ordem internacional, critica a desatenção dos partidos políticos portugueses, os quais se preparam para entrar em campanha para as eleições legislativas a realizar em Portugal, em 10 de março. Contudo, a pressão dos problemas socioeconómicos sobre os Portugueses dá prioridade a questões internas, como seja a habitação, tema que motivou Mariana Mortágua, a líder do Bloco de Esquerda, a relatar um episódio que envolveu a própria avó. O caso gerou polémica, e, portanto, o apelido Mortágua tornou-se palavra da atualidade portuguesa, a ponto de a sua pronúncia ter suscitado dúvidas ao jornalista Carlos Vaz Marques e ao humorista Ricardo Araújo Pereira no Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer (SIC Notícias, 17/02/2024). Na rubrica O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato dedica um apontamento ao assunto, revelando que o o de Mortágua soa como [u] no português europeu, por efeito da redução das vogais átonas, um fenómeno característico da variedade lusitana. No entanto, regionalmente, ocorre também a variante com "ó" aberto – símbolo fonético [ɔ] –, numa prolação tradicional, por exemplo, na região da vila de Mortágua**, topónimo na origem do apelido em apreço. Não erra, portanto, quem diz "Mòrtágua".
* Adota-se a forma Alexei Navalny, corrente nos media em português; porém, apesar de existirem várias propostas e critérios (ver Contributo para a transliteração do russo para o português, Pórtico da Língua, 22/11/2017, e o sistema de transliteração ISO 9), é de notar que ainda não existem regras estáveis e uniformes para a transcrição/transliteração de nomes russos para português (ver "A ortografia dos nomes Boris e Vladimir").
** Na imagem, um aspeto do trilho das quedas de água de Paredes, no concelho de Mortágua.
2. Ainda em O Nosso idioma, a consultora Inês Gama desenvolve nova reflexão sobre o pluricentrismo da língua portuguesa, na sequência do trabalho "O que pensam os falantes de português da sua língua?" (09/02/2024), uma entrevista a alunos do Iscte pelo Ciberdúvidas.
3. Em Os Lusíadas (canto V, estância 54), a personagem do gigante Adamastor, acerca de um amor infeliz, diz: «Eu, que cair não pude neste engano»? Não será o verso contraditório, quando se sabe que a personagem caiu, afinal, numa armadilha sentimental? A resposta junta-se a outras seis, num total de sete, compondo a atualização do Consultório. Outros tópicos abordados: o nome credência; os adjetivos fofo e massa; as locuções «na direção de» e «em direção a»; os verbos demorar e levar; o uso de «bem como» e «assim como»; e o valor do advérbio mais associado a nunca.
4. Que sentido tem afirmar que uma língua é mais bonita do que outra? A esta questão procurou dar resposta uma investigação que foi realizada com base em 228 idiomas e cujos resultados se analisam num artigo do portal Líder Magazine (02/02/2024), transcrito, com a devida vénia, em Diversidades.
5. A questão da ortografia volta a estar na ordem do dia, em Portugal, por causa, por exemplo, do slogan eleitoral «Mais ação». Na rubrica Acordo Ortográfico, disponibiliza-se devidamente atribuído o artigo de opinião que o jornalista Nuno Pacheco assinou no jornal Público (22/0/2024), criticando a ortografia em vigor em Portugal, a propósito da supressão das chamadas consoantes mudas em casos como o de ação (antes acção).
6. Um registo que se impõe, por se tratar de uma publicação com 20 anos e que, partindo da atividade de tradução na União Europeia, constitui um repositório precioso de propostas e reflexões sobre a língua portuguesa: trata-se de A Folha, o boletim da língua portuguesa das instituições europeias, cujo primeiro número é o da primavera de 2004 (ler aqui).
7. No âmbito das atividades da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, e com intervenção da editora Boca, destacam-se duas iniciativas: a apresentação dos dois primeiros volumes de Os primeiros contos do mundo – uma coleção criada a partir dos textos fundadores das várias culturas –, em 27/02/2024, às 18h30, com entrada livre; e, enquadrado pela comemoração do 25 de Abril de 1974, o podcast Pe_Soa: a que estado queremos chegar, lançado todas as quarta-feiras, até 24/04/2024, sempre às 22h55, exatmente hora a que, em 24 de abril de 1974, a rádio transmitiu a senha para o movimento militar avançar e derrubar o regime autoritário então existente.
8. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:
– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 23/02/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), emite-se uma entrevista com Cristina Martins, professora e investigadora do Celga-Iltec – Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada da Universidade de Coimbra, sobre a temática do artigo "O que ainda não sabemos e precisávamos de saber para o ensino de Português Língua Não Materna", publicado na Revista da Associação Portuguesa de Linguística.
– No programa Páginas de Português (Antena 2, domingo, 25/02/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 02/03/2024 às 15h30*), entrevista-se a professora Carla Marques, também investigadora do Celga-Iltec e consultora permanente do Ciberdúvidas, sobre as condicionantes da elaboração de um manual escolar.
– Salienta-se ainda Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido igualmente na Antena 2, cujas emissões de 26 de fevereiro a 1 de março (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*), são dedicadas à comunicação oral e da eficácia do discurso. A convidada é a professora Maria Regina Rocha.
* Hora oficial de Portugal continental.