Exatamente. Se quisermos, ao transliterar os nomes próprios Владимир (Vladimir) e Борис (Boris), manter a pronúncia original, como indica o consulente, é necessário reconhecer que a primeira palavra é paroxítona – não precisando de um acento gráfico em português para que se acentue assim – e a segunda, oxítona. Também é verdade que o nome Boris, em russo (e sem equivalente em português, pelo que não pode ser traduzido, e tal prática, como dissemos em resposta anterior, caiu em desuso), é pronunciado [bɐris], portanto, com redução vocálica do o – precisamente por fazer parte de sílaba átona e, acrescentamos nós, com o som [s] no fim, e não [ʃ], como habitualmente pronunciamos, ou seja, para lermos este nome tal como se pronuncia em russo, teríamos de grafar algo como Barice (neste caso, paroxítona, não se pronunciando o e final, mas que teria de ser grafado para c ter valor de [s] e não de [k], como leríamos em baric). Mas surge-nos, com isto, outro problema, ao mantermos a pronúncia, afastamo-nos da transliteração (passemos a redundância) «à letra».
Esta questão é complexa, e, enquanto não existir uma norma, será difícil estabelecer parâmetros que cumpram, ao mesmo tempo, vários objetivos: a) fazer corresponder as letras, ou seja, transliterar fielmente; b) fazer corresponder a pronúncia, procurando, nesse sentido, a melhor combinação de letras existente no alfabeto de destino; c) obedecer às regras ortográficas da língua de destino.
Desta forma, há uma certa liberdade gráfica no que diz respeito ao uso de topónimos e antropónimos estrangeiros, sendo que, tal como procurámos explicar em resposta anterior, todos os argumentos acima são válidos para adotar a «forma ideal» – se é que tal existe, pelo menos em todos os casos.
Até aqui ensinava-se que se devia traduzir todos os nomes próprios e apelidos, tal como indicado no Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, do doutor Rebelo Gonçalves, contudo, isto nem sempre era aplicável, e tal norma caiu completamente em desuso, o que se entende, já que nem a todos agrada ver o seu nome «mudado» no estrangeiro; por exemplo, imaginemos alguém chamado João Madeira que vai para a Rússia e passa a ser chamado Ivan Derevo (Иван Дерево – tradução de João Madeira) – quem não soubesse russo nem sequer percebia que era de si que falavam...
Tendo em conta a problemática em torno deste assunto, existem em linha no Ciberdúvidas algumas perguntas relacionadas que podem interessar ao consulente, e cuja hiperligação indicamos abaixo.
Sugerimos ainda a leitura do artigo Sobre a transliteração de outros alfabetos, na rubrica O Nosso Idioma.